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‘Coisa Feita’: obra premiada de escritor baiano celebra homoafetividade entre homens pretos

Vencedor do Prêmio Caio Fernando Abreu, o escritor Jordan lança livro que celebra o amor e o erotismo entre homens pretos em diferentes momentos da história do Brasil
Imagem da capa do livro "Coisa Feita", de Jordan, slammer e escritor negro. A obra, que aborda a homoafetividade negra em diferentes momentos da história do Brasil, será lançada nesta quarta-feira (20).

Foto: Divulgação

19 de novembro de 2024

O escritor, dramaturgo e slammer baiano Jordan, conhecido por sua atuação nas batalhas de poesia em São Paulo, lança nesta quarta-feira (20) o seu livro “Coisa Feita – Dois Preto Apaixonado na Cama”. Premiada em 2023 com o Prêmio Caio Fernando Abreu, a obra é uma coletânea de poesias que navegam por períodos distintos da história brasileira, unidas por um tema central: a vivência homoafetiva entre homens pretos.

“Escrever este livro foi atender pedidos”, diz Jordan, que cresceu em Camaçari, região metropolitana de Salvador, mas hoje vive na capital paulista. “Não é apenas um depoimento meu, mas um retrato de histórias e sonhos de diversos homens pretos e gays”.

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A obra será lançada no dia 20 de novembro, às 16h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, como parte do Festival Mix. O evento contará com uma performance de spoken word do autor e um bate-papo com o rapper queer Rico Dalasam, também uma referência de representatividade negra e LGBTQIAPN+.

O livro e suas camadas de temporalidade

Em conversa com a Alma Preta, Jordan descreve a origem do livro. “Sou poeta de slam há dois anos. Comecei escrevendo poesias que chamo de ‘homoafroeróticas’ — poesias de um homem preto para outro homem preto. Juntei todas essas poesias, montei um livro e mandei no ano passado para o prêmio Caio Fernando Abreu. Fui vencedor do prêmio e o livro foi publicado como o resultado do prêmio, pela Editora Reformatório”.

A coletânea aborda a sexualidade e o erotismo a partir de múltiplos cenários históricos. Há poemas ambientados no pós-abolição, refletindo sobre a vivência homoafetiva em um contexto de liberdade incompleta, onde corpos pretos eram duplamente marginalizados. Outros textos exploram a opressão durante a ditadura militar, evocando histórias como as de homens internados compulsoriamente por sua sexualidade. Há também olhares para o presente e especulações sobre um futuro mais acolhedor.

“Mesmo em tempos mais confortáveis, ser gay e preto ainda é uma intersecção delicada“, pontua Jordan. “Não é tão fácil quanto poderia ser, mas certamente é mais fácil do que foi no passado. É por isso que minhas poesias também falam de como podemos imaginar novas formas de afeto e autocuidado”.

Jordan tem duas peças de teatro publicadas e participa da cena dos SLAMS em São Paulo. (Divulgação)

Afetividade como resistência

Uma das principais mensagens de Coisa Feita é a celebração do afeto como ferramenta revolucionária. Para Jordan, a troca afetiva entre homens pretos é uma forma de quilombo moderno. “O afeto gera identificação, reconhecimento. Ele melhora nossa autoestima, traz conforto e nos permite imaginar novas formas de existir para além da objetificação”.

O autor também reflete sobre como essas conexões podem ser um ponto de partida para reconstruir a relação dos corpos pretos com o erotismo, que frequentemente é hipersexualizado ou invisibilizado. Em Coisa Feita, o erotismo é tratado com sensibilidade e potência, buscando abrir novos caminhos de compreensão e vivência.

“Ver esse livro publicado é mais do que uma conquista pessoal. É uma chance de contar histórias que sempre existiram, mas que raramente foram contadas”, conclui Jordan. 

Serviço

Lançamento do livro “Coisa Feita – Dois Preto Apaixonado na Cama”

Quando: 20 de novembro (quarta-feira) 

Horário: às 16h

Onde: Museu da Imagem e do Som – Av. Europa, 158 – Jardim Europa, São Paulo (SP)

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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