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Mortes no samba: Covid-19 atinge cultura afro-brasileira

Nomes importantes da música como Nelson Sargento, Laíla, Nego Ni e Ely Peroais foram levados durante a pandemia

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Reprodução

nelson sargento, ícone do samba, posa para a foto

nelson sargento, ícone do samba, posa para a foto

29 de junho de 2021

Desde o início da pandemia de Covid-19 no país, em março do ano passado, o samba brasileiro esteve de luto diversas vezes pela morte de compositores, intérpretes, carnavalescos, professores de músicas e integrantes de escolas de samba.

No Rio de Janeiro, grande palco do carnaval, a morte do compositor Nelson Sargento, aos 96 anos, em 27 de maio, gerou uma comoção nacional. Em 2019, ele representou Zumbi dos Palmares no desfile campeão da Mangueira. 

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Outra morte por Covid-19 no mundo do samba que repercutiu foi a do diretor de carnaval Laíla, aos 78 anos, no último dia 18. Luís Fernando Ribeiro, seu nome de batismo, tinha mais de 50 anos de samba e marcou história na Beija-Flor, Salgueiro, Vila Isabel, União da Ilha e Unidos da Tijuca.

“Perdemos pessoas importantes para a história oral do samba. A verbalização que conta de forma empírica toda a trajetória dos povos pretos em diáspora aqui no Brasil”, acredita Kaçula, autor do livro ‘Casa Verde: A pequena África Paulistana’.

Em Pernambuco, por exemplo, importantes sambistas partiram durante a crise sanitária. “Logo no começo da pandemia, em abril do ano passado, perdemos o Nego Ni”, lembra o cantor Paulo Perdigão, da roda de samba ‘Mesa de Samba Autoral’.

Nego Ni tinha 46 anos e se chamava Rosenildo Francisco Pereira, ele era percussionista do Grupo Terra. Em Recife, no mês de maio de 2021, morreu também de Covid-19 o sambista Ely Peroais, aos 59 anos de idade, 30 deles dedicados à música. Ele foi fundador e presidente da Acispe (Associação de Compositores e Intérpretes de Samba de Pernambuco).

Perdigão também recorda a morte do sambista Bráulio de Castro, no mês passado, que teve parcerias com Noite Ilustrada e Jair Rodrigues.

“Essas vidas foram ceifadas pelo negacionismo e pela incompetência. A vacinação poderia ter ocorrido muito antes, mas a necropolítica genocida do governo tirou muitas vidas valiosas para a estrutura do samba e do carnaval. [O que] atingiu em cheio a cultura afrobrasileira”, diz Kaçula.

Em São Paulo, o vírus também levou o mestre de bateria Sebastian, também conhecido como mestre Carlinhos, do bloco Caprichosos do Piqueri, da zona Norte. 

O carnaval de 2021 não teve desfiles de escolas de samba e, com os barracões fechados, muitas pessoas ficaram sem uma importante fonte de renda o que dificultou ainda mais seguir os protocolos de prevenção contra a Covid-19.

“Os operários do samba, que fazem as coisas acontecerem, sofrem com um problema de estrutura. Não tem políticas públicas e nem apoio da iniciativa privada. Isso se agravou muito na pandemia. Foi o primeiro setor a perder a fonte de renda. Ficaram também mais vulneráveis ao adoecimento”, pontua o sambista Rogério Família, do Rio de Janeiro, que perdeu vários amigos na pandemia.

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