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Dexter completa 47 anos de vida mostrando que o rap é revolucionário

18 de agosto de 2020

Cantor escreve novas letras durante a pandemia, lança novo clipe e ressalta o compromisso de fazer música com responsabilidade

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Pedro Borges

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O rapper Dexter completou 47 anos no dia 17 de agosto com um jantar em que reuniu amigos mais próximos. Observador, o artista tenta ajudar as pessoas por meio de suas letras. “O rap me faz uma pessoa com sensibilidade apurada”, afirma. O desejo nesses tempos de pandemia é saúde e felicidade. “Essa última é uma parada louca, já ouvi que não existe. Sou uma pessoa sempre preocupada com os outros e tenho meus momentos de felicidade”, diz, lembrando que os anseios parecem clichês, mas são sinceros.

Dexter considera que o rap é algo revolucionário. “O que me resta é fazer o meu trabalho. Não consigo cantar sobre outras coisas. Não seria feliz se minha música não tivesse essa responsabilidade. Minha música tem que ter essa ligação”, ressalta, emendando: “É muito amor envolvido, tio”. Se não tiver o sentimento, o músico considera que não vale a pena.

Com 30 anos de vivência no rap, Dexter diz que a cada ano foi adquirindo responsabilidades. “Para mim, que canto o rap, que é música de engajamento, que tem por objetivo ajudar as pessoas, a responsabilidade é maior, fui me tornando um cara atento a tudo”, conta.

O dia do aniversário do músico choveu, como em vários outros anos. “Gosto de sol, de calor”, diz. Comemorar o aniversário mesmo em meio à pandemia da Covid-19, é importante para Dexter que ficou muito tempo sem festas. Na infância, o artista não tinha comemorações. Em um dos anos recebeu um bolo de fubá da mãe. Aos 17 anos, quando já tinha saído de casa, teve uma festa junto com a prima que fazia 15 anos. Após o período de 13 anos de detenção, o cantor passou a comemorar cada ano que completa. “É importante comemorar com os amigos, comer e beber”, define.

Nascido em 1973, Dexter foi criado em uma família adotiva na periferia de São Paulo. “Quando não se tem estrutura real familiar, a gente sofre muita coisa. Descobri aos sete anos que era filho de criação. Quando se descobre essas coisas, fica sem entender o que é ou não é”, afirma. O cantor lembra que a mãe foi criada na roça em Alagoas e tentou educar os filhos em um contexto bem diferente, já que ele sempre gostou de sair. “Até os 17 anos foi difícil construir uma relação com amor”, detalha.

Entre as razões para comemorar está o fato de  ter saído da prisão vivo. “Isso vai me marcar para o resto da vida”, conta. Além disso, Dexter ressalta que já cantou praticamente com todas as pessoas que gostaria de ter cantado. “Já dividi o show, já almocei, já discuti projetos juntos com os meus ídolos. São prêmios que você vai colecionando, ter ídolos como amigos, além de mestres”, enfatiza.

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Dexter na gravação do clipe de Voz Ativa, releitura da música dos Racionais MC’s, que será lançado em 21 de setembro. (Foto: Pedro Borges/Alma Preta)

O racismo sempre acompanhou e motivou Dexter a buscar pares e lutar contra o sistema de opressão. O rapper conta que a carreira já foi tema de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e recorda de em 2019 ter recebido um prêmio no Supremo Tribunal Federal (STF) chamado Inovare. “Fui receber o prêmio no salão branco e eu lá negrão. Tocaram minha música e recebi o prêmio do ministro Dias Toffoli. Foi louco perceber onde chego por conta do meu trabalho”, pontua.

Outro prêmio, segundo o cantor, é receber mensagens de carinho e de fãs dizendo que as músicas mudaram a vida delas. “Quando isso ocorre percebo que estou no caminho certo. Estou trilhando uma caminhada importante que é reconhecida pelas pessoas”, afirma.

Quando se trata de suas inspirações no rap, o músico menciona o grupo Racionais MC’s como sua maior inspiração. No dia 21 de agosto, Dexter lança ao lado de outros nomes do rap, uma releitura da música Voz Ativa, lançada originalmente pelo grupo de Mano Brown em 1992. “Comecei a cantar por conta dos caras”, diz, citando ainda Thaíde e o grupo Vítima Fatal.

Amante do samba e de algumas vertentes da MPB, para o músico que já se apresentou com nomes como Guilherme Arantes, Paula Lima e Seu Jorge, a música não tem fronteiras. “Gosto da boa música. Sou fã de Tim Maia, Hyldon, Cassiano, Carlos da Fé, Sandra de Sá e Zeca de Pagodinho”, enumera.

Dexter sonha ainda em cantar com Zeca Pagodinho e diz, sem revelar mais detalhes, que deve repetir uma parceria com um artista que já se apresentou antes. “Vai ser um projeto legal e diferente para caramba, cara que é meu ídolo”, adianta. O cantor lamenta novas variações do rap que “não dizem nada com nada”. “Tem muita coisa ruim. Isso me entristece um pouco. Tenho poucos palavrões na minha música, acho desnecessário”, comenta.

Durante a pandemia, o músico tem assistido bastante filmes e voltou a escrever. O nome Dexter, retirado da autobiografia de Martin Luther King, significa destro, direito, sagaz. Questionado sobre o que aprendeu com líderes negros como Luther King, ele afirma que lutar pelos direitos, a ter autoestima, além de aprender a própria história. “Pelo direito que nós negros temos a lutar, ter amor pela causa. Mostrar para as pessoas que vale a pena. Luta é um ponto importante nisso tudo”, considera.

O aniversário de 47 anos foi um dia de viver sua liberdade em estado pleno, já que Dexter considera que “liberdade é ter o direito de ir e vir e poder falar sem ser tirado de cena. É poder ser feliz com pessoas que você também deseja que seja feliz. Poder lutar pela liberdade também é liberdade. É poder sorrir mesmo em meio ao caos e falar de amor”, define.

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