Em entrevista ao Alma Preta, a artista reflete sobre a expansão da carreira e a cobrança por falar sobre questões raciais e políticas
Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Elle Brasil
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Para falar da mulher negra na cena rap do Brasil é necessário mencionar o nome de Negra Li. Com mais de duas décadas de carreira, a cantora é uma das precursoras desse elemento do hip hop e uma das que abriu portas para que outras vozes femininas tivessem espaço. Ela considera que o grande marco deste período é ser considerada como uma porta voz da periferia, de mulheres pretas. “Sempre fico feliz quando escuto alguém me dizer que eu proporcionei essa coragem delas saírem do lugar e lutarem por seus sonhos”, conta, em entrevista ao Alma Preta.
Criada na Brasilândia, distrito da zona norte da cidade de São Paulo, Negrali iniciou a carreira musical no RZO, um dos principais grupos de rap do país, a partir daí expandiu para outros gêneros musicais. E veio outra grande expansão, quando ganhou projeção nacional ao participar da série Antônia, exibida pela TV Globo e que, segundo a artista, marcou as pessoas do bairro onde cresceu.
“Em 2004, começaram as gravações do longa Antônia. A base era na minha casa, na Brasilândia. Foi incrível juntar o útil ao agradável e fazer praticamente um documentário. Foram muitas coincidências, a arte imitou a vida em várias perspectivas. Foi um marco na minha vida protagonizar um filme que virou duas temporadas de série na rede Globo. A menina que virou a própria referência que tanto procurou na TV. Até hoje ouço falar o quanto as personagens trouxeram auto estima para as populações negras e periféricas”, comenta.
Por ser proveniente do rap, que é muito ligado às questões políticas, raciais e sociais, Negra Li acredita que é necessário dar mais espaço para as vozes que protagonizam pautas. “Vivemos em uma sociedade ainda muito racista. Penso que devemos continuar fazendo o que já estamos fazendo, um dar voz para o outro. Isso é o mais importante. Eu gostaria de ser reconhecida pela minha música e atuação, enquanto médicos, políticos, enfim, profissionais pretos, devem ser chamados para falar disso. Já falamos muito da vivência, acho legal o movimento seguir nessa direção onde damos visibilidades para pessoas pretas falarem de assuntos que dominam, e que não se resumem ao seu tom de pele”, considera.
Por outro lado, a artista também avalia que os meios de comunicação devem dar mais atenção à qualificação do debate para evitar a estigmatização de pessoas negras. “Sinto muita falta de falar sobre qualquer coisa. É extremamente cansativo responder sobre pautas raciais e políticas. Entendo a necessidade de falar e acho importante. Porém, não podemos esquecer que podemos falar sobre qualquer coisa. E que é essa liberdade que tanto buscamos. Falar sobre qualquer assunto. Ser o que quisermos ser”, desabafa.
Atualmente, Negrali está produzindo um novo álbum, com direção artística e preparação de voz de Diego Timbó. Ela fala que está realizando um sonho, “trabalhando com pessoas extremamente profissionais e cheias de amor”.
“Podem aguardar um novo trabalho cheio de personalidade”, adianta a cantora. Além disso, a artista também participação do longa “O segundo homem”, dirigido por Thiago Luciano e que ainda será lançado.