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“O mundo dos games é extremamente racista e sexista”, relata streamer

No Dia Mundial do Gamer, profissionais negros relatam as dificuldades no acesso de pessoas negras ao mercado do e-Sports e as estratégias de combate ao racismo nas plataformas de jogos

Foto: Arquivo Pessoal/Taiane SIlva

Foto: Foto: Arquivo Pessoal/Taiane SIlva

29 de agosto de 2022

“Certa vez eu li uma pessoa perguntar se alguém conhecia algum streamer negro e vi um comentário de uma pessoa que disse que talvez achava que as pessoas negras não gostavam de jogar. Eu achei um comentário extremamente absurdo porque a verdade é que a gente não tem as mesmas oportunidades”, desabafa a streamer baiana Taiane Silva, mais conhecida no mundo dos games como AthenaXis.

Em um mercado que movimentou mais de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões, na cotação atual) em 2021, o mercado de jogos eletrônicos, ou “e-Sports”, tem conquistado espaço entre o público jovem e a expectativa é que o setor feche 2024 com uma receita de cerca de US$ 1,62 bilhão de receita (R$ 8,2 bilhões, na cotação atual), segundo relatório divulgado pela Newzoo, principal consultoria de games e eSports do mundo. No entanto, neste 29 de agosto, o Dia Mundial do Gamer, o questionamento que fica é: onde estão os profissionais negros?

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À Alma Preta Jornalismo, gamers negros relatam as dificuldades no acesso de pessoas negras ao e-Sports, os desafios que enfrentam dentro do mercado do games e as estratégias de combate ao racismo nas plataformas de jogos.

Moradora de Pernambués, bairro periférico de Salvador, AthenaXis possui 17 mil seguidores na Twitch, plataforma de transmissão de jogos, e conta que no início da carreira o seu maior medo era ser vítima de racismo e ficar desamparada, já que nunca tinha visto nenhuma pessoa igual a ela dentro do cenário dos games. Foi através de uma comunidade voltada para gamers negros, a Wakanda Streamers, que ela encontrou amparo e descobriu outros profissionais iguais a ela.

“Em geral, o mundo dos games é extremamente racista e sexista, não tem discussão. É um mundo muito complicado. Quando eu iniciei, umas das coisas que eu mais sentia era isso: o medo de sofrer racismo”, conta a profissional.

Taiane Silva, streamer de games“Quando eu iniciei, umas das coisas que eu mais sentia era isso: o medo de sofrer racismo”, conta Taiane Silva | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a profissional, ela já foi alvo de racismo durante uma transmissão e, após o banimento do racista da plataforma,  aproveitou o momento para conversar com o seu público sobre conscientização racial e formas de combate ao racismo.

“Naquele momento eu percebi que tem muitas pessoas absurdamente racistas — é óbvio que racismo é crime — mas também tem pessoas que estão abertas a ouvir o que eu tenho para falar. Eu, como mulher negra, entendo esse espaço como um lugar de fala e eu quis falar sobre isso”, pontua.

Por ter crescido numa comunidade, Taiane Silva percebeu também a desigualdade no cenário do e-Sports e aponta que o investimento em territórios marginalizados é essencial para dar oportunidades para que mais jovens negros estejam nos mesmos espaços que ela.

“Pessoas negras são marginalizadas de várias formas e a gente, como jovem, periférico, negro, tem uma grande dificuldade de ter uma condição financeira de comprar um computador gamer que é mais de cinco mil reais. Eu acho que as empresas têm esse poder e obrigação de tentar, de alguma forma, melhorar isso com políticas de inclusão para trazer pessoas negras e fazer a diferença porque as pessoas brancas não sentem o que a gente sente”, completa.

A gamer Rafaela Chagas, conhecida como @Harunookami, também enfrentou os mesmos desafios que a colega de profissão. Streamer a apenas dois anos, Rafaela relata que não tinha muitos recursos e se sentia insegura em comparação com outros profissionais brancos, já que não tinha equipamentos profissionais para fazer a transmissão dos jogos.

Além disso, o receio em ser alvo de racismo e sexismo fez com que ela usasse um nome masculino nos games para evitar ser alvo de discriminação. Segundo Rafaela, quando iniciou, ela também não conhecia outras mulheres negras que atuavam como streamers.

Rafaela Chagas, streamer e gamerRafaela Chagas já usou um nome masculino para evitar ser alvo de discriminação nos jogos | Foto: Arquivo Pessoal

Para ela, a persistência e o suporte emocional são essenciais para se manter dentro do mundo dos jogos. Como dica para novos profissionais negros (as), ela diz: “Não desista. Pegue o seu celular, transmita o que você faz, tente ao máximo se divulgar nas redes sociais, faça de tudo, mas não desista”.

Também morador de comunidade, Gabriel Nascimento tem 21 anos, é do bairro de Águas Claras, na capital baiana, e trabalha como streamer e criador de conteúdo. Conhecido como Gabreta, buscou nos desenhos animados personagens que representassem quem ele é: negro, jovem e da perifeira. Foi assim que o gamer passou a se caracterizar como o super-herói ‘Super Choque’.

O streamer conta que começou na área ao trabalhar de forma voluntária em um portal voltado ao cenário do e-Sport no Nordeste. Através das experiências voluntárias que teve, ele percebeu a ausência de pessoas negras faveladas dentro desses espaços. “Eu nunca vi alguém como eu, preto da periferia, ‘streamando'”, conta.

Gabriel Nascimento, streamer “Eu nunca vi alguém como eu, preto da periferia, ‘streamando'”, conta Gabriel Nascimento | Foto: Arquivo Pessoal

Através do humor baiano, Gabriel utiliza o seu espaço para, além de entreter o público, levar conscientização racial e a cultura da favela para o e-Sports. “A minha intenção como criador de conteúdo é justamente essa: colocar tudo o que eu vejo na minha favela. Para mim, o mais importante é mostrar para a galera da minha favela e das favelas daqui de Salvador que, sim, apesar de ser da favela, a gente também tem o nosso lugar.

À Alma Preta, o profissional diz que já foi alvo de racismo dentro das plataformas de jogos e avalia que ainda é preciso de mais discussões e apoio dos demais profissionais sobre as questões raciais dentro do e-Sports.

“O racismo no meio dos games é um grande problema. O preto quando fala do racismo é [considerado] vitimista e se a gente não tem esse apoio de outras pessoas, é um negócio que fica difícil. É um assunto que está sendo debatido. Dá pra ser mais? Dá, porque é algo que a comunidade está precisando muito. Porém, a gente vê que está engatinhando”, completa.

Confira abaixo a entrevista que Gabriel, o Gabreta, concedeu à Alma Preta e se inscreva em nosso canal!

Leia também: Mundo game: Como tornar o eSport mais diverso

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