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Vítima de tráfico humano, senegalês codirige filme sobre a própria história

O longa-metragem “Malick” é inspirado na vida de Modou Awa Dieye
O senegalês Modou Awa Dieye vive em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e codirige filme sobre sua própria história.

O senegalês Modou Awa Dieye vive em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e codirige filme sobre sua própria história.

— Divulgação/Filme "Malik"

9 de fevereiro de 2025

Em busca de uma nova vida, na Itália, um jovem de 22 anos sai do Senegal, no continente africano, em uma viagem com a ajuda de seu tio, mas ao desembarcar descobre que está mais de 7 mil quilômetros de distância da sua terra natal. Ele foi enviado ao Equador sem saber e descobre ser vítima de tráfico humano. Fugindo dos criminosos, ele passa pelo Peru, Bolívia, até chegar ao Brasil.

Essa é a história de Modou Awa Dieye, multiartista senegalês, que é inspiração para o filme “Malick”, no qual também é codiretor, junto com o cineasta Cassio Tolpolar. O longa-metragem está em fase de gravações, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

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“Só sinto felicidade de ver minha história virando filme. Isso para mim é uma conquista muito grande, porque jamais iria imaginar sair do meu país, que era minha zona de conforto, para ir a um outro lugar, onde ninguém me conhecia, passar por tudo isso e, de repente, estou fazendo um filme em um outro país, em uma outra língua. Então, para mim, isso é uma conquista muito grande”, afirma Modou Awa Dieye.

Modou Awa Dieye
O senegalês Modou Awa Dieye vive em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e codirige filme sobre sua própria história. Foto: Divulgação

O percurso para que a realidade virasse ficção foi longo e iniciou em 2017. O diretor do filme, Cassio Tolpolar, estava reescrevendo um outro roteiro de ficção e procurava um parceiro senegalês para a empreitada.

“O nome de Modou chegou até a mim por outro senegalês, o Bamba. A primeira vez que conversei com Modou, pelo telefone, ao invés de falar sobre o projeto que eu tinha, ele me contou sua história de vida, que achei triste, mas fantástica. Uma história de pura resiliência. Foi, então, que comecei a mudar o roteiro, que inclusive tinha outro título e sinopse. Estamos aqui hoje por causa desse encontro”, explica o cineasta.

A história de Modou se soma a tantas outras de refugiados que chegam ao Brasil todos os anos. Em 2024, só no Rio Grande do Sul, cidade onde ele vive atualmente, foi registrado o maior número de autorizações para migrantes e refugiados desde 2020, segundo dados da Polícia Federal. Foram 27 mil autorizações, no ano passado, um crescimento de 103,4% em comparação a 2020.

“Com o filme, estou na verdade buscando uma forma de cura, que é relembrar o que aconteceu na minha vida passada e de outros imigrantes que passaram por isso, mas que estavam sem voz ou com medo de contar.  A minha expectativa é que os imigrantes que já passaram por isso, que já não estão mais aqui e os que ainda estão, se sintam como se alguém estivesse fazendo a justiça por eles. Pra mim, o filme é uma forma de luta”, afirma o imigrante senegalês.

O Filme “Malick

O filme “Malick” conta a história de um imigrante senegalês de 25 anos, que busca se adaptar e construir sua vida, em Porto Alegre (RS). Vítima de tráfico humano, ele é assombrado pelo seu passado. A promessa de um novo futuro é comprometida, quando ele acredita que o coiote que o trouxe ao país, reaparece. Malick enfrentará o dilema entre vingar-se do coiote, arriscando assim sua permanência no país, ou esquecer o passado e continuar com seu plano de estabilidade.

Primeiro longa-metragem de ficção da produtora audiovisual gaúcha Mamaliga Films, o filme já participou dos laboratórios de roteiro Varilux e Luzes da Cidade, dos mercados audiovisuais SP Cine Pitching e Cine Esquema Novo e das rodadas de negócios do FRAPA e Roteiros e Narrativas. Também fez parte do programa Accelerator do SEE Fest Film Festival em Los Angeles.

“Malick” tem direção de Cassio Tolpolar e codireção de Modou Awa Dieye; roteiro de Adry Silva, Cassio Tolpolar e Modou Awa Dieye; e produção-executiva de Ana Luísa Moura e Pam Hauber.

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