Paris – Nesta segunda-feira (29), o japonês Horikame Yuto entrou para a história como o primeiro bicampeão olímpico do skate street em uma prova com alto nível de competição e calor incessante na pista construída na Praça da Concórdia, em Paris. O Brasil também teve representantes na competição, incluindo o finalista Kelvin Hoefler.
A Alma Preta acompanhou a disputa de dentro da arena e conversou com alguns dos atletas que participaram da disputa, incluindo dois atletas negros — o brasileiro Felipe Gustavo e o canadense Russell Cordano.
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Assim como no domingo (28), quando Rayssa Leal levou o bronze, a competição do skate street masculino teve como pano de fundo sol forte e calor incessante. Disputada entre 12h e 17h (horário local), a competição teve como estrela brasileira o atleta Kelvin Hoefler — medalhista de prata nos jogos de Tóquio.
Logo após o término da competição, Hoefler falou com a Alma Preta e apontou que o forte calor atrapalhou a disputa.
“Acho que em Tóquio estava mais [calor que em Paris]. A única coisa ruim é a vela. É muito quente e trava bastante”, disse Hoefler. A vela é uma espécie de cera passada no skate e no obstáculo para facilitar o deslizamento. “A gente que é mais técnico tem que ficar toda hora passando vela. É um ponto crucial que o skate precisa trocar — as regras de que não pode passar vela”, acrescentou o atleta.
O brasileiro acredita que as regras da competição na Olimpíada precisam mudar: “A chuva também atrapalhou, a pista é de madeira com concreto, aí estufa. Tem que ser fechado [o ambiente da competição], ginásio e tal, onde não tem vento também. São muitas coisas [para mudar]. Tomara que em Los Angeles seja legal”.
Além de Hoefler, os brasileiros Felipe Gustavo e Giovani Vianna também competiram hoje (29), mas não foram à final.
Final com virada histórica e disputa acirrada
Diferente do dia anterior, as torcidas mais animadas entre os presentes foram a dos franceses e dos estadunidenses, não a brasileira. A torcida francesa se empolgou com skatistas locais como Vincent Milou, que levantou o público com suas manobras, mas não chegou à final. Já a torcida dos EUA cresceu em empolgação conforme dois de seus atletas avançaram nas eliminatórias.
A final do street masculino em Paris reuniu o eslovaco Richard Tury (9º do ranking mundial da World Skate), o canadense Russell Cordano (16º), o brasileiro Kelvin Hoefler (14º), o argentino Matias Dell Olio (11º), os japoneses Shirai Sora (2º) e Horigome Yuto (3º), e os estadunidenses Nyjah Huston (6º) e Jagger Eaton (4º).
O bicampeonato do japonês foi marcado por uma remontada surpreendente em sua última chance de pontuar. Horigome precisava de uma nota altíssima para chegar à medalha de ouro e tinha apenas uma chance. À altura do desafio, o japonês conseguiu aplicar uma manobra com que obteve a melhor nota da competição — 97.08. No total, o japonês acumulou 281.14 pontos.
A disputa em Paris foi acirrada. Na classificação para a final, o pódio estava com Eaton, Huston e Sora. Já ao término da primeira rodada da final — voltas livres —, Huston assumiu a ponta, seguido por Eaton e Shirai. Com a última nota de Horigome, Huston ficou com o bronze e Eaton com a prata, marcando, respectivamente, 279,38 e 281.04 — apenas 0.10 de diferença para o medalhista de ouro.
Na Olimpíada anterior, o pódio foi ocupado pelo japonês Horigome Yuto (ouro), pelo brasileiro Kelvin Hofler (prata), e pelo estadunidense Jagger Eaton. Nyjah Huston foi apenas o sétimo em Tóquio.
A classificação da final em Paris ficou assim:
1º Yuto Horigome, 281.14 pontos (Japão)
2º Jagger Eaton, 281.04 (EUA)
3º Nyjah Huston, 279.38 (EUA)
4º Sora Shirai 278.12 (Japão)
5º Richard Tury, 273.98 (Eslováquia)
6º Kelvin Hoefler, 270.27 (Brasil)
7º Russell Cordano, 211.80 (Canadá)
8º Matias Dell Olio, 153.98 (Argentina)
Atletas negros se destacam na competição
Apesar de terminar em sétimo, o canadense Russell Cordano caiu nas graças do público durante a disputa da final. Com carisma e habilidade, o atleta conseguiu cativar os presentes com suas manobras, após as quais levantava seu skate e interagia com a plateia. Ao término da prova, Russell foi um dos mais comemorados pelos torcedores à beira da pista. À Alma Preta, ele contou como se sentiu nessa interação com o público.
“É uma das coisas mais incríveis, uma das coisas mais bonitas, sabe? Todos vêm de diferentes caminhos na vida e estarmos conectados por uma prancha de skate e a habilidade com a qual o Senhor me abençoou é realmente maravilhoso. É algo que amo fazer e quero mostrar ao mundo que é algo que amo fazer, mas essa alegria vem de Deus”, compartilhou o atleta logo após a final, acrescentando que sua parte preferida da competição é a das manobras, porque é ali que está o show.
O atleta Felipe Gustavo, único skatista negro competindo na equipe brasileira na modalidade street, também conversou com a Alma Preta. O atleta não chegou até a final, tendo sido eliminado na terceira bateria eliminatória. Apesar disso, ele obteve uma avaliação de destaque na fase de manobras, recebendo uma nota 93.22.
“Aquela é uma manobra que já dei várias vezes, eu esperava aquele 93. Falei para a galera que na hora que bati, fechei o olho e acertei, foi meio que um blecaute, juro para você! Foi de primeira. Eu tinha dado [a manobra] hoje, mais cedo, mas nem tentei no aquecimento. Pensei assim: se fora para ser, vai ser de primeira”, contou descontraído, apontando o alívio de acertar. “Isso acontece no skate, foi no instinto mesmo”, acrescentou.
O skatista olímpico também contou à Alma Preta como é ser um atleta negro de alto nível. Segundo ele, é fato que atletas negros carregam o peso do racismo.
“Tento levar isso como motivação, sempre pensando positivo porque isso não acontece desde agora, é desde sempre. Mas é um prazer poder ser negro, representar o meu país e representar o skate”, disse.