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Estreia do breaking nas Olimpíadas reflete luta do movimento negro, diz ativista

A competição deve ocorrer nos dias 9 e 10 de agosto na Place de la Concorde, em Paris
Imagem mostra um atleta de breaking dance, representante do Time Brasil.

Foto: Divulgação/COB

31 de julho de 2024

Prestes a estrear nas Olimpíadas de Paris 2024, o breaking dance apareceu pela primeira vez na história do torneio em solo latino. Foi nos Jogos Olímpicos da Juventude de Verão em Buenos Aires, em 2018, que a modalidade de origem norte-americana comprovou o seu sucesso entre o grande público. 

A história do estilo de dança urbana, no entanto, teve início no Bronx, em Nova York (EUA), na década de 1970, quando o breaking dance foi criado pelas comunidades negra e latina como forma de amenizar as disputas territoriais.

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Também conhecido como break ou b-boying, o esporte foi um divisor de águas para dezenas de jovens integrantes de gangues de rua. Em pouco tempo, as batalhas entre os grupos de dançarinos, que disputavam os melhores movimentos com seus corpos, se popularizaram na região junto à cultura hip-hop.

Na ocasião, DJs como Kool Herc e Grandmaster Flash promoviam festas em bairros periféricos, utilizando duas cópias do mesmo disco para prolongar as partes de breakdown, quebra de tempo na música, onde os músicos sincronizam o ritmo dos instrumentos.

A partir deste movimento, as pessoas também passaram a dançar de uma forma diferente e aqueles que se destacavam foram chamados de break-boys e break-girls, nomenclaturas hoje abreviadas para B-Boys e B-Girls.

O sucesso do novo estilo não demorou muito para chegar ao Brasil. Na década de 1980, grupos de dançarinos começaram a se reunir em frente à estação São Bento do Metrô de São Paulo para treinar passos de breaking e batalhar. Foi quando o Mestre Ivamar chegou ao país após passar um período em Angola. 

“Quando cheguei no Brasil, eu vi o hip-hop explodindo nas periferias. Isso foi muito forte para mim. As bandeiras levantadas eram de combate e enfrentamento a um sistema que não atendia a periferia. E mais, também era um grito de socorro de jovens que utilizavam os seus corpos, através da dança, para se apoiar, se posicionar e reivindicar oportunidades para os jovens negros”, afirmou Mestre Ivamar, ator e ativista do movimento negro, à Alma Preta.

Hoje, o breaking transcendeu o status de dança para se tornar um esporte globalmente reconhecido, com dançarinos profissionais competindo em torneios ao redor do mundo. O ativista, no entanto, pontua que é importante enaltecer àqueles que lutaram contra o preconceito enfrentado pelos pioneiros da dança urbana.

“Há toda uma bagagem de luta, todo um estudo, é importante a gente ter esse olhar, porque quando o breaking entra em uma Olimpíada podemos ver como os outros países também vão apresentar, cada um traz essa força“, sinalizou Mestre Ivamar. 

Os movimentos artísticos originários das ruas, como o samba e a capoeira, têm um histórico de discriminação nos campos das artes e ganharam respeito a partir de muita luta. “O Brasil tem essa coisa da luta, da busca por direitos, do combate ao genocídio da população negra e o fortalecimento da nossa cultura afro-brasileira, e isso foi construído com o movimento do hip-hop”, ressaltou.

O pioneiro do breaking no Brasil

Um dos pioneiros do break no Brasil foi Nelson Triunfo. O ativista social e coreógrafo costumava praticar seus movimentos transgressores na Galeria 24 de Maio, em São Paulo, o espaço possuía um calçamento com pedras grandes que permitiam os passos deslizantes.

A prática, no entanto, não era bem vista pela base da Polícia Militar próxima ao local, especialmente durante o período da ditadura militar. Por esse motivo, o artista foi preso diversas vezes por dançar na rua. Em 2014, o Marco Zero do hip-hop foi instalado no local onde os dançarinos costumavam se apresentar.

“Agora nós temos o hip-hop com todos esses elementos e acho importante que todas elas avançem, sejam os MC’s (mestres de cerimônia) com as suas batalhas, ou o breaking dance nos Jogos Olímpicos”, disse Mestre Ivamar. 

Para ele, a entrada do estilo nas olimpíadas reflete “muito bem as mudanças que estamos vivendo e que virão na próxima década”. “É uma outra pegada, um outro olhar de resistência, um outro olhar de combate, e de entender essa diversidade de pensamentos”, concluiu.

  • Acervo pessoal de Nelson Triunfo, pioneiro do Breaking no Brasil
  • Acervo pessoal de Nelson Triunfo, pioneiro do Breaking no Brasil

Brasil fora das Olimpíadas no breaking dance

O Brasil teve nomes importantes tentando uma vaga em Paris pelo mundial, como Drika, Toquinha, Nathalia, Pekena, Mini Japa, Karolzinha, Maia e Itsa representando as mulheres. Entre os homens, Kapu, Dinho, Rato, Flash, Luan San, Bart, Kley e Ratin disputaram o ingresso no torneio.

Apesar disso, os atletas brasileiros não conseguiram ficar entre os 16 primeiros nomes do ranking internacional. A modalidade, porém,, já foi cenário de outras conquistas para os atletas brasileiros neste ano. 

Em março, o brasileiro Samuel Henrique, conhecido como b-boy Samuka, por exemplo, se consagrou como campeão do Fujifilm Instax Undisputed, em Tóquio, no Japão. A competição reuniu mais de 180 dançarinos de 23 países.

Em Paris, toda a competição de breaking deve ocorrer nos dias 9 e 10 de agosto na Place de la Concorde. Durante as Olimpíadas, o local tem sido utilizado como epicentro dos esportes urbanos como BMX Freestyle, skate e basquete 3×3.

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  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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