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Colonialismo: apenas quatro edições da COP ocorreram no continente africano

Próxima edição do evento será em Sharm El Sheik, no Egito; Ativista egípcio acredita que a COP na África é importante para se buscar a justiça climática 

Texto: Pedro Borges | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Pedro Borges

Participantes africanos da COP

5 de novembro de 2021

Quênia (2006), África do Sul (2011), Marrocos (2001 e 2016) foram os países africanos a sediar as quatro edições da COP que ocorreram no continente. A região que mais recebeu edições do evento foi a Europa, que sediou o evento em 14 oportunidades. A Alemanha hospedou a conferência em quatro oportunidades: em 1995, 1999, 2016 e 2018. A Polônia foi a anfitriã três vezes, em 2008, 2013 e 2017.

Diosmar Filho, geógrafo e doutorando em Geografia pela Universidade Federal  Fluminense (UFF), acredita que a dinâmica das COPs é um reflexo do colonialismo.

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“Quem vai decidir os processos do mundo não está no continente africano, mas naqueles países que se colocam na condição do G20, das nações que se colocam como colonizadoras, incluindo o Brasil”, afirma.

“A agenda da COP é definida a partir de quem tem dinheiro e não de quem é afetado”, completa Diosmar Filho.

A próxima COP retorna à África depois de seis anos, quando a cidade de Marraqueche, no Marrocos, organizou o encontro em 2016. O encontro de 2022 ocorrerá no Egito.

Hossam Emam, engenheiro civil e fundador da Ação Sustentável no Egito, destaca a importância da próxima COP ser no continente.

“A COP na África vai transformar o evento em acessível para os africanos se engajarem cada vez mais nas negociações. E isso significa um passo mais próximo na direção da justiça climática”, finaliza.

Isabella Teixeira, ex-Ministra do Meio Ambiente entre 2010 e 2016, explica que uma das dificuldades para sediar a COP é o alto custo do evento, fator que pesa para as nações africanas e latino-americanas. Toda a estrutura da Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser garantida pela nação sede. 

“Custa muito caro. A COP não é barata. Toda a estrutura da ONU é bancada pelo país anfitrião. Essa é uma dificuldade muito grande para países em desenvolvimento. Não é barato trazer chefe de Estado e delegações”, explica.

Apesar de a África, assim como os demais países do Sul global, ser bastante afetada pelas mudanças climáticas, Hossam Emam afirma que o continente sofre mais do que as demais nações do hemisfério para acessar espaços como a COP. 

“Quando a COP ocorre em países do Norte, a acessibilidade é difícil, começando pela questão do passaporte e do visto. Algumas nações não precisam disso para entrar na Europa e nos EUA”, explica.

“Na África, às vezes, você precisa viajar para outro país, onde existe uma embaixada, apresentar muitos documentos e ter sorte pra conseguir. No final, você vai ter a autorização de dias ou uma semana”, completa.

Brasil e a COP

Apesar de integrar o G20, o Brasil nunca recebeu o encontro. Na América Latina, a COP aconteceu em quatro oportunidades: na Argentina (1998 e 2004), no México (2010) e no Peru (2014). 

“As COPs acontecem nos países signatários e cada ano ocorre em uma região. Esse ano na Europa, ano que vem na África. O grupo regional da América Latina vota para que os grupos que queiram sediar sejam aprovados. O critério é o da alternância”, afirma a ex-Ministra do Meio Ambiente.

Havia a expectativa do Brasil receber a COP de 2019, que foi transferida para o Chile. O vizinho sulamericano vivia manifestações massivas na época e decidiu abrir mão do encontro, que ocorreu em Madrid, Espanha.

“O Brasil foi o unico país a apresentar candidatura. Quando veio o atual governo, ele tirou a candidatura do Brasil”, conta Isabella Teixeira.

Ela acredita ser fundamental dialogar e receber outros países do mundo. Como exemplo, cita a Rio92, evento organizado pelo governo brasileiro para discutir meio ambiente e clima.

“O Brasil era muito questionado sobre o desmatamento da Amazônia. O governo brasileiro resistiu às críticas no começo e depois optou por chamar todo o mundo para discutir sobre o Brasil, no Brasil. E isso se tornou a cara da política externa brasileira para a área. Nós somos um países continental. Trazer o mundo para o Brasil é importante, para entender a nossa realidade”.

A Rio92 reuniu 178 líderes de estado, contou com a participação da sociedade civil e teve ampla cobertura da imprensa internacional. O encontro construiu a Agenda21, acordo que sinalizou a importância da mudança dos padrões de consumo, necessidade de transferência de recursos para os países pobres e o estabelecimento de áreas de ação, como a atmosfera e as florestas.

Leia mais: ‘É a COP das possibilidades’, acreditam ativistas do movimento negro

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