No Brasil, 140 milhões de pessoas têm no SUS o único acesso aos serviços de saúde; Para especialista, privatização da vacina pode “criar segregação na sociedade e atentar contra os direitos básicos da população”
Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Agência Brasil
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No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro disse em coletiva de imprensa da TV Brasil que apoia a ampla concorrência e o livre comércio quando se trata da compra de vacinas contra a Covid-19 no Brasil .“O governo federal é favorável a esse grupo de empresários para levar avante sua proposta para trazer a vacina para cá, a custo zero, para o governo federal, para imunizar 33 milhões de pessoas” afirmou Bolsonaro. A declaração, o entanto, serviu de mote para levantar uma discussão sobre a monetização de um produto que é essencial para normalizar as atividades depois de um longo período de incertezas gerada pela crise pandêmica ainda em curso.
Zezé Menezes, ativista negra e mestre em Patologia Humana pela UFBA, acredita que o investimento privado em vacinas não é favorável para a população: “O que os empresários brasileiros estão propondo é a manutenção de privilégios. Se a gente parar para pensar, até os EUA, que é o exemplo máximo do capitalismo, está vacinando a população de forma gratuita por conta da emergência que está acontecendo”, pontua.
Do montante comprado pela iniciativa privada, o presidente explica que 50% seriam destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) que, desde a aprovação do uso emergencial da vacina, é responsável por toda a logística e distribuição das doses de CoronaVac e da vacina de Oxford que chegam ao país.
A proposta é de que a outra parte das vacinas sejam utilizadas pela iniciativa privada a partir de critérios definidos por quem realizou o investimento. A possível negociação entre empresas e o laboratório AstraZeneca envolve 33 milhões de doses a serem importadas para o Brasil. A farmacêutica, em nota, negou que tenha doses disponíveis para realizar a negociação.
Na última quarta-feira, o governo federal anunciou que não tem envolvimento com a compra de vacinas pelo setor privado, mas afirma “não ter nenhuma objeção à hipótese”. Além disso, o documento pontua que não há dinheiro público envolvido em possíveis negociações entre empresários e farmacêuticas que dispõe da vacina.
Para Zezé Menezes, a possibilidade de uma negociação é crime e muito preocupante. “Essa proposta é uma política absurda, o SUS é responsável pela vacinação da população e a vacina é um bem público. A ideia do setor privado é criar segregação na sociedade e atentar contra os direitos básicos da população”, conclui a ativista.