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Má atuação do governo vai agravar desigualdade da população negra após pandemia, diz economista

17 de junho de 2020

Integrante da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) aponta inabilidade do Estado para lidar com as consequências financeiras da Covid-19 entre os mais pobres

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Leo Faria

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Os impactos econômicos da pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, serão mais sentidos pela população negra, que é também a mais pobre do Brasil. A constatação é do economista Mario Theodoro, integrante da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), que aponta problemas na condução do governo de Jair Bolsonaro (Sem partido) durante a crise epidemiólogica e prevê inabilidade em lidar com as consequências no futuro. “A tragédia da pandemia vai para além da circulação de vírus, mas de reação do poder público. O estado ficou parado, mostrando sua ausência”, afirma.

As consequências nos próximos meses serão o aumento da informalidade, do desemprego e a diminuição da renda, já que os serviços serão ofertados a preços mais baixos por conta da concorrência. “Isso vai gerar maior concentração de renda e aumento das desigualdades sociais”, explica o economista, acrescentando que o país deve ter queda do Produto Interno Bruto (PIB) e desvalorização do real. “Para além da crise de econômica, gerada pela pandemia, que é uma crise social, temos uma crise política, tudo isso afeta a vida das pessoas”, pontua.

De acordo com Theodoro, o momento crítico que o país atravessa mostra a ausência de políticas públicas para a população pobre no pré-pandemia. “Deixou de fazer uma série de coisas em relação a essa população, como infraestrutura urbana e saneamento. Um lugar com muita densidade populacional como favelas são prato cheio para proliferação de doenças”, explica.

 Ao contrário do que aconteceu em outros países, o economista recorda que o governo brasileiro demorou para agir para mitigar os efeitos da pandemia sob a população negra e pobre. “O Estado ficou inerte, dando cabeçadas, com o governo federal falando uma coisa e o governo do estado outra”, afirma. Theodoro lembra ainda que muitas ações ficaram no papel e que mesmo o auxílio emergencial foi uma proposta da Câmara Federal. “Os R$ 600 não tem prazo certo e as pessoas nem sabem se o valor continuará o mesmo”, salienta.

Theodoro sugere que a gestão de Bolsonaro deveria ter adotado como estratégia em um primeiro momento a distribuição de cestas básicas pelas forças armadas. Em um segundo momento, injetar dinheiro e descartar a responsabilidade fiscal. “Pandemia é guerra. O governo liberou grana, mas os bancos retiveram impostos. Teria que ter aumentado o Bolsa Família”, enumera. A falta dessas ações, segundo ele, impacta diretamente a população negra, que vive majoritariamente da informalidade. “Se não receber hoje, não come hoje. Então, acaba indo pra rua e correndo riscos”, analisa.

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