Integrante da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) aponta inabilidade do Estado para lidar com as consequências financeiras da Covid-19 entre os mais pobres
Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Leo Faria
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Os impactos econômicos da pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, serão mais sentidos pela população negra, que é também a mais pobre do Brasil. A constatação é do economista Mario Theodoro, integrante da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), que aponta problemas na condução do governo de Jair Bolsonaro (Sem partido) durante a crise epidemiólogica e prevê inabilidade em lidar com as consequências no futuro. “A tragédia da pandemia vai para além da circulação de vírus, mas de reação do poder público. O estado ficou parado, mostrando sua ausência”, afirma.
As consequências nos próximos meses serão o aumento da informalidade, do desemprego e a diminuição da renda, já que os serviços serão ofertados a preços mais baixos por conta da concorrência. “Isso vai gerar maior concentração de renda e aumento das desigualdades sociais”, explica o economista, acrescentando que o país deve ter queda do Produto Interno Bruto (PIB) e desvalorização do real. “Para além da crise de econômica, gerada pela pandemia, que é uma crise social, temos uma crise política, tudo isso afeta a vida das pessoas”, pontua.
De acordo com Theodoro, o momento crítico que o país atravessa mostra a ausência de políticas públicas para a população pobre no pré-pandemia. “Deixou de fazer uma série de coisas em relação a essa população, como infraestrutura urbana e saneamento. Um lugar com muita densidade populacional como favelas são prato cheio para proliferação de doenças”, explica.
Ao contrário do que aconteceu em outros países, o economista recorda que o governo brasileiro demorou para agir para mitigar os efeitos da pandemia sob a população negra e pobre. “O Estado ficou inerte, dando cabeçadas, com o governo federal falando uma coisa e o governo do estado outra”, afirma. Theodoro lembra ainda que muitas ações ficaram no papel e que mesmo o auxílio emergencial foi uma proposta da Câmara Federal. “Os R$ 600 não tem prazo certo e as pessoas nem sabem se o valor continuará o mesmo”, salienta.
Theodoro sugere que a gestão de Bolsonaro deveria ter adotado como estratégia em um primeiro momento a distribuição de cestas básicas pelas forças armadas. Em um segundo momento, injetar dinheiro e descartar a responsabilidade fiscal. “Pandemia é guerra. O governo liberou grana, mas os bancos retiveram impostos. Teria que ter aumentado o Bolsa Família”, enumera. A falta dessas ações, segundo ele, impacta diretamente a população negra, que vive majoritariamente da informalidade. “Se não receber hoje, não come hoje. Então, acaba indo pra rua e correndo riscos”, analisa.