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Projeto de lei quer incluir Negro Cosme no Livro dos Heróis da Pátria

Símbolo da revolta da Balaiada, no Maranhão, o líder negro é considerado imperador da liberdade de escravizados; deputado federal Bira do Pindaré diz que proposta se trata da compreensão da história negra nacional

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão

A imagem mostra o deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) durante uma plenária

A imagem mostra o deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) durante uma plenária

26 de maio de 2021

A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados aprovou a inscrição de Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme, destacado líder da revolta popular maranhense denominada Balaiada, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O Projeto de Lei Nº 5.654/2020 é de autoria do deputado Bira do Pindaré (PSB-MA).

“Esse projeto possui uma força simbólica e expressiva. Negro Cosme liderou a revolta mais importante da história do Maranhão”, avalia o parlamentar, que também coordena a Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Quilombolas.

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Para a relatora da comissão, a deputada federal Benedita da Silva (PT), essa inclusão representa a valorização da figura de Negro Cosme e traz esperança para que outros nomes importantes sejam lembrados da mesma forma. Ela considera que o homenageado foi responsável por liderar mais de 3 mil escravos em uma luta de resistência importante da história nacional. “Ele [Negro Cosme] é um líder reconhecido por todos os pesquisadores, historiadores, intelectuais da negritude e conhecedores do mundo negro”, ressalta.

De acordo com Pindaré, Negro Cosme é para os maranhenses uma figura tão representativa quanto Zumbi dos Palmares. “Uma pessoa que foi escravizada e tomou a iniciativa de liderar a libertação do povo negro naquela época. A trajetória dele é similar a de Zumbi, até pela forma em que ele [Negro Cosme] foi morto”, complementa o parlamentar.

Imperador da liberdade

Cosme Bento das Chagas nasceu em Sobral, no Ceará, no início de 1800. Nascido livre, foi alfabetizado na infância e realizou pequenos trabalhos braçais na adolescência. Negro Cosme foi preso em 22 de setembro de 1830, acusado de assassinar Francisco Raimundo Ribeiro, em Itapecuru-Mirim. Em seguida, foi enviado à capital São Luís.

Negro Cosme fugiu da prisão em 1° de maio de 1833, depois de liderar um levante de presos. Ficou foragido até 1838, quando foi capturado em Codó, também no estado maranhense. Durante este período, optou por se esconder em vários quilombos da região de Itapecuru-Mirim, até ser novamente detido.

Quando a revolução da Balaiada estourou, em dezembro de 1838, Negro Cosme esteve preso na capital, não participando da insurreição. Para poder integrar o levante, o líder negro escapou mais uma vez da prisão, em outubro de 1839. Em novembro do mesmo ano já corria a notícia de que ele liderava os escravos nas várias fazendas às margens do Rio Itapecuru.

Ilustração sobre a Revolta da Balaiada, protagonizada por Negro Cosme | Crédito: Câmara Municipal de São Luís (MA)Ilustração sobre a Revolta da Balaiada, protagonizada por Negro Cosme | Foto: Câmara Municipal de São Luís (MA)

No final de 1839, Negro Cosme já era conhecido como Imperador da Liberdade por simbolizar a luta e resistência contra o regime escravocrata. Entre fevereiro e setembro de 1840, todos os rebelados negros já haviam sido derrotados, exceto os homens sob o comando de Cosme. Na Balaiada, a insurreição chegou ao fim somente quando as tropas legais capturaram o líder negro. A captura ocorreu depois de uma batalha violenta realizada em Calabouço, no município de Mearim, em 7 de fevereiro de 1841.

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Preso, seu processo foi aberto em março de 1841 e somente em 5 de abril de 1842 o julgamento foi realizado. Negro Cosme foi condenado à forca por liderar no Maranhão uma das mais temidas insurreições do povo negro já ocorridas no Brasil. À frente dos quilombolas, lutava pelo fim do regime escravocrata, junto com outros líderes, como o índio Matroá, o vaqueiro Raimundo Gomes e de Manoel Ferreira dos Anjos: o Balaio.

O líder negro foi enforcado em Itapicuru-Mirim em 20 de setembro de 1842, transformando-se em símbolo da luta contra escravidão. “Muitas vezes, heróis quilombolas que lutaram contra o escravagismo são esquecidos. Quando tomamos a decisão de inscrever esses nomes no livro dos heróis, isso tem um reflexo muito grande no entendimento e na compreensão do que foi o nosso passado”, finaliza o deputado federal Bira do Pindaré.

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