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“Propostas de Covas para as periferias terão impacto real mínimo”, avaliam o escritor Ferréz e o rapper Dexter

30 de novembro de 2020

Com uma campanha com mais recursos, prefeito eleito Bruno Covas não detalhou planos para as periferias e gera incertezas sobre algum efeito prático na luta antirracista

 

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Texto: Juca Guimarães I Edição: Flávia Ribeiro I Imagem: Rovena Rosa / Agência Brasil

A reeleição de Bruno Covas (PSDB) em São Paulo, após uma campanha que custou R$ 19,4 milhões, é uma incerteza de melhorias para a população que vive nas periferias da maior cidade do país, sobretudo os negros que reprentam 32% da população. Com 59,38% dos votos, o tucano venceu Guilherme Boulos (Psol) que recebeu 40,62% dos votos em uma campanha que custou R$ 3,4 milhões. Ambos valores de gastos com a campanha são da prestação parcial de contas das candidaturas até o final do primeiro turno, que foi no dia 15 de novembro.

Bruno Covas prometeu nomear mais pessoas negras para o primeiro escalão do governo, atualmente a cúpula da gestão municipal tem apenas uma pessoa negra, e implantar o ensino de cultura afro-brasileira e História da África na rede municipal de ensino. A lei existe desde 2004.

A campanha de Boulos teve seis vezes menos dinheiro do que a de Bruno Covas, porém, o candidato do PSOL venceu o tucano em oito zonas eleitorais da periferia: Campo Limpo, Valo Velho, Piraporinha, São Mateus, Capão Redondo, Grajaú, Cidade Tiradentes e Parelheiros.

“As propostas do Covas dizem pouco sobre algum impacto real nas quebradas. A gente não tem muita esperança de que promessas sejam cumpridas. Talvez, aconteça alguma coisa até mesmo por conta da campanha do Boulos que falou muito sobre a periferia. Mas é o seguinte também, os tucanos não têm contato com a periferia real, então são sempre iniciativas genéricas. Foi um desserviço esse governo ter ganhado as eleições”, disse o escritor Ferréz, autor de vários livros sobre o cotidiano das periferias de São Paulo, entre eles Desterro, em parceria com Alexandre De Maio e Capão Pecado.

Para o rapper Dexter, que durante a pandemia fez uma regravação e um videoclipe da música Voz Ativa, dos Racionais MCs, sobre a importância da união dos negros e dos moradores das periferias para conquistar avanços na política, a eleição de Bruno Covas foi uma decepção.

“Falar que vai colocar os pretos no primeiro escalão é muito fácil. Hoje é a demanda que mais aparece. Mas é uma luta que o movimento negro já faz há muitos anos. Bruno Covas falar em colocar pretos na equipe é fácil, ele podia ter feito isso antes e não fez. Como vamos acreditar agora? Eu não acredito”, disse o rapper.

Dexter lembra que Bruno Covas teve apoio político e foi vice-prefeito do João Doria, também do PSDB, que se elegeu com uma série de promessas para a cidade e depois largou o cargo para concorrer nas eleições para o governo estadual.

“Eles não representam a gente em nada. Não se parecem com a gente e não falam como a gente. O governo do Estado deu carta branca para a polícia matar as pessoas. Estão forjando flagrantes para colocar mais negros nas cadeias. É desesperador o quê estamos vivendo com esses caras no poder. Serão mais quatro anos em um cenário muito ruim. Eles vão governar para quem tem dinheiro, para quem é da classe média alta para cima”, disse o músico.

Na capital paulista, cerca de 30% dos eleitores, algo em torno de 2,7 milhões de pessoas, não foram votar no domingo. Cerca de 273 mil votaram em branco e 607 mil anularam. As abstenções, votos nulos e brancos somam 3,5 milhões de eleitores, mais que os 3,1 milhões de votos do Bruno Covas.

“O que mais me entristece é o desinteresse do nosso povo. Nem parece que são eles os mais atingidos”, disse o rapper Dexter.

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