A participação de pessoas negras nas esferas de poder cresceu nas últimas eleições, mas não reflete a diversidade da sociedade brasileira;
Texto: Roberta Camargo | Imagem: André Bueno / CMSP
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Mesmo sendo maioria da população, negros ainda são minoria dentro das prefeituras e em câmaras municipais pelo Brasil. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, os candidatos negros passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no Brasil e entre os 5,4 mil prefeitos eleitos, pelo menos 1,7 mil candidatos se declararam pretos ou pardos. É a primeira vez que isso acontece desde 2014.
Na última eleição, passou a valer a regra para o repasse de verdas do Fundo Eleitoral para candidatos negros, pleito criado e defendido por Benedita da Silva (PT). A determinação foi de que candidatos negros e brancos recebessem os mesmos recursos de financiamento de campanha e tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio. A iniciativa possibilitou mais diversidade e presença de negros no interior das gestões municipais e para as cadeiras ocupadas nas câmaras legislativas como mostra o balanço do TSE: 54% dos eleitos que ocupam Câmaras Municipais no Brasil se autodeclaram negros.
Os números são superiores aos apurados e divulgados pelo TSE nas eleições de 2016, mas as Câmaras continuam mais brancas do que a população brasileira que 42,7% de brancos e 56,2% de negros, segundo dados do IBGE.
Para a pesquisadora em gênero, raça e política e articuladora do projeto Enegrecer a Política, Ingrid Farias, os resultados das eleições de 2020 não foram surpreendentes. “Essas últimas eleições foi o que a gente costuma chamar de fumaça branca. Houve uma grande apropriação do debate antirracista, feminista, LGBTQIA+ e isso também serve para algunas partidos de direita, que usou essas falas pra galgar fundos e se candidatar”, explica.
Nas prefeituras também há distorção no reflexo entre a população e quem ocupa os cargos de alto escalão. O TSE mostra que, entre todos os eleitos para a prefeitura, 32,1% são negros e 67% são brancos. O número cresceu desde 2016, quando negros representavam 29,2% dos cargos nas prefeituras, mas se mantém desigual, já que a cada 10 prefeitos eleitos, apenas 3 são negros.
O recorte por região
De acordo com a região do país, a representatividade dentro das câmaras municipais muda. No norte do Brasil, a exemplo de Palmas-TO, 95% das cadeiras são ocupadas por candidatos negros. Por outro lado, no sul, Florianópolis-SC, não elegeu nenhum vereador negro.
“A montagem das secretarias executivas em todo o Brasil, teve alguns executivos que fizeram esforço, mas tem outros que não se movimentam para montar equipes diversas”, conta a pesquisadora. Ela cita como exemplo o caso da prefeitura de Recife, onde a prioridade do prefeito eleito João Campos (PSB) foi a diversidade de gênero que não considerou questões como raça.
Em uma rede social, o prefeito João Campos do PSB celebrou a paridade de gênero do secretriado | Imagem: Reprodução/Instagram
Quando se trata de gênero, mulheres representam menos de 50% das cadeiras em todas as câmaras no país. A média de representação feminina depois das eleições de 2020, segundo os dados do TSE, é de 20%. Na ida à urna mais recente, o número de mulheres eleitas como prefeiras alcançou o índice de 11,8%.
De olho no cenário que já se desenha para as eleições de 2022, Ingrid afirma que “a resposta vem das ruas, do movimento negro que tem várias ações que estão sendo feitas pra aumentar a participação das pessoas negras na política.” Segundo a articuladora, é uma disputa que precisa se esquivar de quem já possui o poder e dita as regras da política: “A esquerda branca, assim como a direita extremamente fascista vão continuar agindo para manter essas estruturas”, afirma.