Tamires Sampaio é feminista negra, advogada e escritora. Moradora de Guaianases, zona leste da capital paulista, atua como militante do Coletivo de Entidades Negras (CONEN) e como coordenadora da Frente Nacional Antirracista. Foi Secretária Adjunta de Segurança Cidadã, em Diadema, coordenando a Patrulha Maria da Penha e atualmente é diretora do Instituto Lula.
Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), e a primeira mulher negra a ser presidenta Centro Acadêmico João Mendes Júnior, da Faculdade de Direito da Mackenzie. Nessas eleições, tenta pela segunda vez ocupar um cargo eletivo, com a candidatura a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
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No ano de 2019, Tamires Sampaio foi nomeada embaixadora do Global Peace para a América Latina, projeto do Centro Africano para a Resolução Construtiva de Disputas que promoveu mais de cem encontros intergeracionais em diversos países do mundo. O intuito era consolidar propostas para a construção da paz através da geração de emprego, combate à fome, violências e desigualdades.
Em entrevista à Alma Preta, ela conta que a atuação de sua mãe, psicóloga que acompanhava diversas situações de violência em organizações populares na zona leste de São Paulo, foi a sua primeira formação para a vida política.
“Minha mãe fazia acompanhamento de várias situações de violência em muitas entidades populares. Então eu já cresci vendo a luta das mulheres. Em especial as mulheres da periferia, mulheres negras. Foi ali meu primeiro contato mais direto com os problemas sociais”, relata Tamires.
Com a entrada no curso de Direito na Mackenzie por meio do PROUNI, ela passou a se questionar sobre diversas questões como o racismo, machismo e as disparidades sociais presentes naquele ambiente. Assim, se organizou em um grupo de teoria crítica com outros alunos de esquerda e fundou um coletivo estudantil para questionar o racismo na universidade.
Para o Congresso Nacional, caso seja eleita, Tamires Sampaio deseja levar como pautas prioritárias a construção de uma política cidadã com um plano nacional de segurança pública. Além disso, a pauta da educação, valorização da cultura da periferia e um modo de fazer política pautado no “bem viver”.
“A primeira coisa que quero levar é a construção de uma política cidadã, porque a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado e a maioria das mulheres assasinadas no Brasil são mulheres negras. O índice de violência contra a população negra é maior do que países que estão em guerra, então é fundamental barrar essa política de morte, porque se nosso povo não está vivo, nós temos acesso às políticas públicas”, afirma a candidata.
“Então quero construir uma política de segurança que não seja baseado nessa lógica de apenas de manutenção da ordem e prevenção de risco que aliado ao racismo levam a cultura de violência”, completa.
Esse desejo de levar à Brasília o modelo de política cidadã está muito vinculado à sua trajetória acadêmica junto ao movimento negro. Ao longo da graduação e do mestrado pesquisou sobre segurança pública e a população negra. Tamires conta que a partir disso, teve a oportunidade de atuar na secretaria de Segurança Pública de Diadema e promover espaços de formação para a GCM, por exemplo.
“Essa pesquisa de uma segurança que esteja aliada à garantia de direitos ou com baixa desigualdade, me possibilitou ser Secretária Adjunta de Segurança em Diadema. Conseguimos fazer capacitações baseadas na prevenção e no diálogo com a população. Isso foi muito interessante porque saiu da academia para luta social e na prática da gestão pública nos mostrou o que de fato pode ou não ser implementado ou não”, conta.
Por fim, a advogada e candidata ao congresso comenta sobre suas expectativas com a possibilidade de um número recorde de mulheres negras eleitas no próximo domingo.
“Estou muito confiante que nessa eleição a gente consiga eleger uma bancada fortalecida de mulheres negras, isso trás a possibilidade da gente construir uma bancada histórica do movimento de mulheres negras no congresso. Isso é fundamental para o fim das desigualdades, porque quando uma mulher negra se movimenta, transforma toda a sociedade” finaliza Tamires Sampaio.
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