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Editorial: um voto negro à esquerda

Debate racial não é mais exclusivo da esquerda; a análise crítica ao capitalismo e de compreensão das estruturas raciais no país é fundamental para entender o contexto em 2024
Protesto do Movimento Negro Unificado (MNU) à época de sua fundação

Foto: Jesus Carlos/Memorial da Democracia

2 de outubro de 2024

A tradição política brasileira desde a segunda metade do século XX coloca a população negra mais próxima dos partidos políticos de esquerda e dos ideais progressistas. As eleições de 2024 mostram, contudo, que isso não está escrito na pedra e a direita tem construído estratégias para alcançar esse eleitorado.

A Alma Preta entende que não existe saída política para o racismo, a violência generalizada contra pessoas negras e o projeto genocida fora do campo de esquerda. Não há possibilidade de superar as desigualdades em um sistema econômico moldado para gerar abismos sociais, raciais e de gênero.

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O progresso no debate racial no país obrigou o campo de esquerda a assumir compromissos mais concretos com esse segmento da população. Os avanços foram tantos que a direita entendeu a necessidade de participar do assunto.

Em São Paulo, a única representante negra no páreo é Antonia de Jesus, que compõe chapa como vice de Pablo Marçal (PRTB), representante do bolsonarismo e do neoliberalismo. A candidatura de esquerda, formada por Guilherme Boulos e Marta Suplicy, é toda branca, assim como as demais chapas.

No jogo da política da representatividade, é fundamental que exista habilidade para conquistar esse eleitor. Em vez de ir ao centro, de negociar com o status quo, é momento de puxar o debate à esquerda e ousar, tanto no projeto quanto na representação. A direita tem topado negociar cada vez menos com o jogo democrático burguês, na mesma medida que tem aproximado cada vez mais pessoas negras para os palanques. A esquerda, por outro lado, caminha ainda embranquecida ao centro na tentativa de buscar um eleitor que hoje enxerga a crítica ao sistema no neoliberalismo e a na destruição de qualquer indício de estado de bem-estar social.

Cabe ao campo de esquerda construir uma política com reais condições de superar as desigualdades, de gerar um impacto real na vida dos trabalhadores, e, portanto, construir uma política antirracista. 

Ao eleitorado negro, a atenção deve ser redobrada. O poeta Solano Trindade afirmou que “negros senhores na América, a serviço do capital não são meus irmãos”. Nem todos que se parecem, estão conosco na luta, com os mesmos objetivos de libertação dos grupos subalternizados. Como completou Trindade: “Só os negros oprimidos, escravizados, em luta por liberdade são meus irmãos”. O poeta declamou que “para estes tenho um poema grande como o Nilo”. 

Para a população negra não resta outro caminho que não seguir à esquerda, como anunciou o Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, durante a reorganização das lutas antirracistas no país pós-ditadura militar. É votar e construir esse caminho, para que se formem condições suficientes para responder aos anseios do povo de transformação da realidade.

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