Em artigo, a socióloga e mestra em Ciências Humanas e Sociais, e professora da Faculdade Zumbi dos Palmares, Najara Costa fala sobre a urgência de transformar a naturalização da violência contra a mulher em meio à pandemia
Texto / Najara Costa | Imagem / Reprodução
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A campanha pelo isolamento social estabelecida em decorrência da pandemia em escala mundial causada pelo Covid 19, trouxe, a reboque, uma latente fragilidade qual grande parcela das mulheres estão submetidas: a violência doméstica. É isso mesmo! Experienciar mais tempo ao lado do parceiro pode significar para muitas um sério risco de vida.
As já gritantes estatísticas que traduzem a misoginia estabelecidas no Mapa da Violência refletem o quanto o espaço familiar pode não ser um ambiente seguro, especialmente para mulheres negras. Nesse sentido, muitos outros casos de agressões, e até mesmo feminicídios, passam a ser notificados e alertados no atual contexto pela ONU e/ou outras tantas organizações políticas e sociais, vide o necessário confinamento recomendado pela organização mundial da saúde (OMS).
Jair Bolsonaro, em uma das suas muitas atitudes irresponsáveis, chegou a declarar que os casos de violência doméstica no Brasil aumentaram pela falta de comida na casa das pessoas, em razão de muitos estarem em quarentena e impossibilitados de trabalhar.
Neste ponto, além de se eximir de responsabilidades que o competem, tais como o direcionamento de ações políticas em prol de medidas emergenciais em um contexto de crise, a fala do presidente orienta dois grandes equívocos, sendo o de que a fome geraria a violência contra a mulher, acrescido de que o isolamento social deveria acabar, já que “o Brasil não pode parar”.
Não nos caberá aqui grandes justificativas acerca da necessária quarentena, medida cientificamente recomendada neste momento para a preservação de vidas e capaz, inclusive, de evitar um caos no Sistema Único de Saúde (SUS). De outro modo, a relativização da agressão sobre as mulheres é não só lamentável como desprezível, especialmente quando proferida pela principal autoridade do poder executivo.
Promover novas estratégias de sociabilidade a partir de redes de apoio e conscientização será um grande passo rumo a efetiva emancipação feminina, outrossim, o amparo do Estado a partir do reconhecimento das vulnerabilidades que permeiam irrestritas violências é fundamental.
Nesse sentido, é urgente a compreensão e alternância de um cenário que impõe a naturalização das violações dos direitos das mulheres, onde prerrogativas básicas rumo à equidade não são asseguradas.
Najara Costa é socióloga, mestra em Ciências Humanas e Sociais e professora da Faculdade Zumbi dos Palmares.