Entre os filmes produzidos no Brasil nos últimos anos, apenas 1.086 com duração maior que quatro minutos foram dirigidos por profissionais negros. A informação é do levantamento intitulado “Cinemateca Negra”, que mapeou de forma inédita os filmes produzidos por pessoas negras no país entre 1949 e 2022.
O estudo foi feito pelo NICHO 54, instituto que apoia a carreira de pessoas negras em posições de liderança, e coordenado por Heitor Augusto, pesquisador responsável pela concepção, organização e edição da publicação. A contagem leva em consideração longas, curtas e médias metragens dirigidos por uma ou mais pessoas negras desde a década de 1940.
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Segundo o levantamento, historicamente, existe uma baixa prevalência de filmes produzidos por pessoas negras no Brasil. Isso porque 83% de toda essa produção surgiu entre as décadas de 2010 e 2020.
Até os anos 1960, apenas seis filmes haviam sido realizados por diretores negros. Entre 1970 e 1990, a média foi de 19 produções por década. Em 2000, o número saltou para 116, enquanto em 2010 foi para 586.
A pesquisa também analisou a distribuição de produções cinematográficas considerando o tipo de produção – curtas e longas – ao longo das décadas. Quando olhamos para o recorte de longas-metragens dirigidos por indivíduos negros, a proporção é a seguinte: 23,8% na década de 1970; 55% na década de 1980; 11,7% na década de 1990; 8,5% na década de 2000; e ligeiramente acima de 10% nas décadas de 2010 e 2020.
“Os primeiros dados revelam como o racismo impacta negativamente a produção intelectual das pessoas pretas ligadas à cena audiovisual no Brasil e mostram o possível impacto positivo das políticas afirmativas”, explica o coordenador da pesquisa Heitor Augusto.
Para ele, o ineditismo do projeto consiste, justamente, em trazer a público qual é o panorama dos últimos 80 anos olhando em termos racializados. O coordenador da pesquisa também esclarece que essa é apenas a primeira etapa do estudo, que analisou apenas posições de direção, sem se ater a outros cargos possíveis: produção, técnicos, roteiristas.
A publicação completa será lançada em 2024 em versão impressa e bilíngue com dados ligados aos formatos das produções, identidade de gênero dos realizadores e os cargos ocupados.