Um estudo da Vidalink, empresa de planos de bem-estar corporativo do Brasil, destaca que 41% das mulheres pretas e pardas enfrentam uma dupla jornada de trabalho, dividindo-se entre o emprego formal e as responsabilidades domésticas.
O percentual é maior que os 37% registrados entre mulheres brancas, refletindo uma desigualdade estrutural que afeta diretamente a qualidade de vida e o bem-estar das trabalhadoras negras.
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A pesquisa, realizada com 10.300 colaboradores de 220 empresas entre janeiro e junho de 2024, mostra ainda que 54% das mulheres negras classificam seu bem-estar como mediano, e 43% relatam sentir-se ansiosas na maior parte do tempo. Esses números evidenciam o impacto da sobrecarga da dupla jornada em sua rotina, comprometendo o tempo dedicado ao autocuidado e ao desenvolvimento pessoal e profissional.
Sobrecarga estrutural
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforçam o quadro de desigualdade: mulheres negras participam menos do mercado de trabalho (52%) do que mulheres brancas (54%) e homens (75%). Ao mesmo tempo, dedicam dez horas semanais a mais do que os homens a atividades domésticas e de cuidados não remunerados, compondo uma realidade de “pobreza de tempo”.
“Essas mulheres enfrentam barreiras adicionais para cuidar de si mesmas e crescer profissionalmente, devido à sobrecarga doméstica. É essencial criar culturas organizacionais que reconheçam essas necessidades e ofereçam soluções flexíveis e inclusivas”, afirma Luis González, CEO da Vidalink, em nota para a imprensa. Para ele, essa sobrecarga não é apenas uma questão pessoal, mas estrutural, exigindo ações das empresas.
A sobrecarga da dupla jornada se reflete também nos cuidados com a saúde mental e física. O estudo aponta que 46% das mulheres pretas e pardas não realizam ações para cuidar da saúde mental, índice significativamente maior que os 33% das mulheres brancas. Além disso, 34% desejam iniciar práticas físicas, mas não conseguem devido à falta de tempo e suporte, contra 28% das brancas.
O levantamento ressalta a necessidade de políticas corporativas adaptadas às realidades de mulheres negras, que considerem a sobrecarga doméstica e promovam flexibilidade no trabalho, acesso a programas de bem-estar e inclusão.
“Reduzir essas desigualdades exige um esforço coletivo das lideranças, reconhecendo a pluralidade de demandas e buscando soluções que atendam às diferentes realidades”, conclui González.