No Brasil, menos de 4% dos profissionais em cargos de liderança são negros. Além da desigualdade racial, a diferença salarial também escancara como o racismo estrutural se movimenta nos ambientes corporativos: mesmo quando contratados, os negros recebem 45% a menos do que os brancos. Entre pessoas com ensino superior completo, a diferença é de 31%.
Ao sentir na pele essa desigualdade e refletir sobre a falta de lideranças negras nos altos postos hierárquicos, o empresário Kwami Alfama, CEO da Tereos Amido & Adoçantes Brasil, decidiu que a inclusão de profissionais iguais a ele no ambiente corporativo deveria se tornar uma prioridade e decidiu criar o Pactuá, iniciativa voltada para estimular a inclusão de pessoas negras nas empresas.
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Um dos poucos CEOs negros do Brasil, Kwami Alfama diz que a ideia surgiu a partir de uma retrospectiva da sua própria vida, quando percebeu uma falta de diversidade tanto no ambiente universitário e, principalmente, nas posições de liderança nas empresas nacionais e multinacionais por onde passou.
“Foi então que comecei a buscar ativamente outros executivos negros para conversar, me relacionar e inserir em meu networking. De encontros em fóruns a conversas iniciais no LinkedIn, reuni um grupo de executivos negros que acredita no poder da inclusão como objeto de transformação da sociedade. E assim nasceu o PACTUÁ. Um PACTO e um ATO pela diversidade racial. O objetivo é acelerar a inclusão de talentos negros, potencializando a ascensão nas empresas”, diz o CEO.
Junto com outros 11 profissionais, o Pactuá tem o intuito de conectar profissionais negros de diversos segmentos e inserir essas lideranças na direção e no conselho administrativo das empresas brasileiras. A iniciativa se dá por meio da realização de mentorias a jovens negros e negras e na elaboração de uma rede de indicações para recrutamento voltados para cargos de liderança.
Ao todo, o grupo atua em cinco pilares estratégicos: ampliar o conhecimento que o grupo tem sobre ancestralidade; retribuir à sociedade o espaço que conquistaram e abrir portas para as próximas potências; educar e informar os outros, construindo ativamente uma sociedade mais justa; aumentar a escala trazendo diversidade para todos os elos da cadeia de valor; advogar em prol de profissionais negros, removendo barreiras para o crescimento e desenvolvimento.
Uma das integrantes do grupo, Flávia Porto, diretora de RH da Yara Brasil, diz que, para além da contratação, as empresas devem ter como pilares fundamentais a consciência, educação e sensibilização para que a diversidade, de fato, seja construída nas empresas.
“Medidas que nos façam construir pontes e derrubar barreiras para a inclusão. E que isto traduza na criação de um “pipeline” de acesso à talentos ainda invisibilizados pelo mercado de trabalho”.
Para Kwami Alfama, é urgente que o mundo corporativo adote o reconhecimento das potências negras.
“Criar negócios que incluam esta população é crucial para um futuro em que todos contribuam com seus potenciais e diferentes formas de existir e pensar. Temos que olhar a população negra não sob a ótica da escassez, mas sobre a ótica da potência e suas contribuições para a construção deste futuro”, pontua.
“Como grupo, acreditamos que com a nossa potência, vivência como pessoas negras em posições executivas, e vasta experiência multifuncional podemos influenciar a transformação necessária, criando pontes e removendo barreiras para organizações mais inclusivas, inovadoras e sustentáveis”, completa Kwami Alfama.
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