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‘Será um ano muito difícil’, dizem professores sobre pautar eleições em sala

Docentes do Distrito Federal contam que a repressão às pautas e questões políticas tem aumentado, o que dificulta o trabalho cívico da escola em um ano eleitoral

A imagem mostra uma professora ensinando uma estudante em sala de aula. A menina está sentada com o livro sob a carteira, enquanto a professora aponta para uma das páginas

Foto: Vinicius de Melo/ Agência Brasilia

18 de janeiro de 2022

“Não vai ser fácil trabalhar eleições em sala de aula este ano”, dizem professores da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Em um ano eleitoral, onde o foco de diversas discussões circundam o pleito, as salas de aula podem se tornar um ambiente de um embate cada vez maior. 

A professora Márcia Gilda afirma que este ano de 2022 pode ser regado a repressões aos professores que prezam por discutir política e democracia em sala de aula. Segundo ela, em outros anos eleitorais também aconteciam questionamentos acerca dos conteúdos que estavam sendo ministrados, mas a partir de 2018, com a ascensão do bolsonarismo, o cerceamento crítico ficou ainda maior.

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Em 2019, o programa Escola Sem Partido (PL 246/19) foi amplamente discutido e, apesar de não ter sido aprovado, permeia até hoje o imaginário social. O programa propunha uma agenda conservadora para a educação brasileira permitindo que estudantes recebam a educação religiosa e moral, além de propor que professores não podem “promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias”. 

Isso, de acordo com Gilda, faz com que a comunidade se posicione contra algumas formas de ensino mais voltadas para a diversidade, direitos humanos, geopolítica, sociologia e história. Outras matérias, que foram pautadas pelo atual governo, também atravessam a proposta de uma educação mais plural e voltada para as classes populares como o homeschooling, a implementação do novo ensino médio, mais voltado para o tecnicismo; e a militarização das escolas públicas.

“A escola que é séria vai falar sobre eleições independentemente dessas repressões. Não podemos nos privar da nossa responsabilidade”, diz Márcia, que é coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sindicato dos Professores do DF.

O professor Marcos Reis, pedagogo em uma escola da Ceilândia, periferia de Brasília, diz que já sofreu coerção por trabalhar questões étnico-raciais e falar sobre a ditadura militar em classe. Ele contou que monitores de um projeto extra-classe chamado Politica nas Escolas, feito por estudantes da Universidade de Brasília (UnB), também era mal visto por familiares dos estudantes. 

“As famílias que assumem uma postura a favor do governo tendem a pensar que estamos pregando doutrinas políticas para os alunos, sendo que estamos fazendo o nosso papel cívico e pedagógico”, relata. 

Reis diz que a privação da discussão sobre política, em especial para aqueles estudantes mais vulneráveis, pode gerar um grande prejuízo social, já que é nesse momento que muitos podem desenvolver um senso crítico e entrar em contato com ideias diversas. O professor diz que esses alunos tem mais dificuldade de acesso à informação e isso pode gerar um ciclo de profunda falta de conhecimentos basilares para a cidadania. 

“A gente tem a possibilidade de falar sobre fake news, sobre a importância do voto, sobre como se estrutura os poderes no país, por exemplo. Isso é fundamental para a cidadania”, argumenta o professor.

De acordo com André Bento, alocado na Regional de Ensino de Brazlândia, o trabalho sobre as eleições de 2022 dentro das escolas devem acontecer como em todos os anos eleitorais, mas é necessário prudência, já que em momentos de pleito o ambiente escolar fica ainda mais visado como um recinto de conflitos ideológicos. 

Bento vê o ano eleitoral como uma oportunidade de se trabalhar em classe todas as esferas democráticas e mostrar para os estudantes, familiares e comunidade que a política circunda toda a vida. 

“A escola sempre foi e sempre será um espaço de disputa, seja de narrativas, de poder ou conhecimento, esse ano não será diferente. Apesar disso, vamos fazer nosso papel como educadores, com respeito e responsabilidade”, diz. 

Lei também: Racismo e educação: estudantes negros relatam os desafios de permanecer no ensino superior

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