“Muitas vezes, em meio ao nosso cansaço, esquecemos de olhar o entorno. Nosso dia a dia cai no modo automático e adoecemos diante da correria do relógio: o dos trens, das fábricas ou escritórios”, relata a escritora e jornalista Jéssica Moreira.
Nascida e criada em Perus, bairro da periferia da região noroeste de São Paulo, ela utilizou a literatura para retratar o cotidiano de quem utiliza o transporte público da maior metrópole da América Latina. “VÃO: trens, marretas e outras histórias” é um livro de crônicas e poesias idealizado para ser lido em uma viagem de trem. A obra, lançada oficialmente no dia 13 de novembro, está disponível para venda online.
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“Dentro do aperto da lotação dos trens e de todas as dificuldades que encontramos ao utilizar esse transporte, há muita vida, muitas histórias a serem narradas. Somos gente, com muitas histórias e muitos sonhos, mesmo em face do cansaço diário de gastar 1h, 2h ou até 3h só para chegar até o trabalho”, aponta a autora. Escrito durante seus próprios traslados, o livro versa sobre mobilidade urbana, desigualdade socioeconômica e outros diversos aspectos da vida em uma grande cidade.
As histórias narram o dia a dia dos trens da linha 7-Rubi, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na região noroeste de São Paulo. Segundo a artista, os poemas são de leitura rápida, “mas profundos como o vão que separa o trem da plataforma”.
“Mais que um retrato crítico das superlotações dos trens e da dificuldade diária que todas e todos nós enfrentamos nos trens, VÃO fala sobre as pessoas. O público irá entender que a sua própria história, enquanto trabalhadora ou trabalhador, também é importante. E que a história oficial (esta que está nos livros didáticos), só existe porque as nossas pequenas-grandes histórias existem”, diz.
Segundo a CPTM, em setembro de 2021, a Linha 7-Rubi, cenário no qual as histórias foram inspiradas, chegou a mais de 6,4 milhões de usuários. Mesmo diante da pandemia de Covid-19, as populações periféricas nunca deixaram de utilizar o trem. Em média, a companhia transporta 3 milhões de pessoas por dia em seus 271 km de extensão das linhas operacionais.
O livro possui 124 páginas e compõe o portfólio de obras que Jéssica assina. Aos 30 anos de idade ela é uma das autoras de “Queixadas – por trás dos 7 anos de greve (2013)”, “Heroínas dessa História – mulheres em busca de Justiça por familiares mortos pela ditadura (2020)”, “Longe de Monte Carlo (2020)” e “Chão Vermelho (2021)”.
Além disso, ela é co-fundadora do Nós, mulheres da periferia; repórter da Agência Mural de Jornalismo das Periferias; coautora do Blog Morte Sem Tabu, da Folha de S.Paulo; integra o coletivo poético Terracota e é uma das organizadoras da Festa Literária Noroeste.
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