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A história de Nossa Senhora Aparecida, a santa representada pela figura de uma mulher negra

Imagem da padroeira foi encontrada há mais de 300 anos e a fé em torno dela move milhões de fiéis pelo Brasil; santa é vista também dentro da religiosidade como uma figura de "libertação" dos negros escravizados

Texto: Letícia Fialho | Edição: Nataly Simões | Imagem: iStock

Imagem de Nossa Senhora Aparecida

Foto: Statue of the image of Our Lady of Aparecida, religious symbol of Brazil

12 de outubro de 2021

No dia 12 de outubro, no Santuário Nacional de Aparecida – localizado município de mesmo nome no interior de São Paulo – milhões de fiéis se reúnem em homenagem à padroeira do Brasil, representada pela imagem de uma mulher negra.  Entre os católicos, Nossa Senhora Aparecida é muito requisitada por seus fiéis que precisam de ajuda em momentos de aflição. 

A santa se tornou conhecida após o episódio em que sua imagem foi encontrada pelos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia em 1717, no rio Paraíba do Sul, em São Paulo. Outras versões dizem que essa imagem encontrada era de Nossa Senhora da Conceição, feita em terracota, com 36 centímetros de altura e 2,5 quilos.

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Ela veio em dois pedaços: primeiro o corpo e depois a cabeça. A partir desse encontro ela se tornou ‘Aparecida’. O nome se encaixou perfeitamente e o episódio se tornou um milagre. Segundo teóricos, a santa teria sido jogada na água por alguma pessoa que pretendia se livrar da imagem, que já estava quebrada. Existem pessoas que dizem que um santo quebrado atrai má sorte.

De acordo com o infográfico criado pelo site do Santuário Nacional e a historiadora Teresa Pasin, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi esculpida por volta do ano 1600. “O que sabemos é que a provável pessoa que teria feito a imagem foi o frei Agostinho de Jesus, em 1600, que se ocupava em modelar na argila imagens pequenas para ficar dentro de casa da Imaculada Conceição”, afirma.

O padre Lucas Emanuel enaltece a beleza e o mistério da padroeira negra. “A imagem apareceu no momento em que muitos negros eram escravizados. As divindades não concordam com a escravidão, ao contrário disso, elas querem que todos nós tenhamos dignidade e liberdade”, pontua.

A santa libertadora

O babalorixá Dhill Costa, do Ilé Ọdẹ Maroketu Àṣẹ Ọba, ressalta a ligação da imagem da santa com uma figura de “libertação” dos negros escravizados. De acordo com ele, existe também uma representação de liberdade para as mulheres, que tanto já sofreram com a perseguição.

“Ela é dita como libertadora pela sua audácia feminina, ser a mãe de Jesus, ser destemida, foi uma mulher liberadora, uma mulher de resistência, corajosa, audaciosa, e a mulher brasileira representa muito isso hoje. Ela apareceu em um rio numa imagem preta, o que destaca também o sofrimento da mulher preta”, considera.

Associação com Oxum

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país é comum a associação da padroeira à orixá Oxum, cultuada pelas religiões de matriz africana e conhecida como a rainha das águas calmas, sím/olo de fertilidade e proteção das mulheres. O babalorixá, no entanto, explica que se tratam de figuras de religiosidades distintas.

“Existe o sincretismo religioso na Umbanda que é uma religião afrodescendente. Já no Candomblé há Oxum, que é uma divindade africana enquanto Nossa Senhora Aparecida não é uma divinidade, é uma santa cristã. O Candomblé e o Cristianismo são completamente diferentes”, esclarece.

Leia também: Designer cria jogo educativo contra intolerância a religiões de matriz africana

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