Por: Juca Guimarães
As imagens dos mísseis, explosões e prédios ruindo no Oriente Médio dão a ideia de uma guerra entre israelenses e palestinos, porém a disputa territorial na região tem base em práticas de exploração e segregação racial semelhantes ao Apartheid, na África do Sul.
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O Apartheid foi um regime racista de segregação, que existiu na África do Sul entre 1948 e 1994. Durante o governo branco, as leis permitiam a remoção forçada das populações negras para territórios isolados chamados bantustões. Os africâners, como eram chamados, também adotaram medidas de genocídio dos negros sul-africanos. Os serviços essenciais, como saúde e educação eram precarizados para os negros.
A luta dos sul-africanos negros contra o racismo durou décadas e levou a um embargo internacional, que minou as forças do governo branco. Em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente e colocou fim ao Apartheid.
Atualmente, Israel promove a remoção forçada de palestinos de seus territórios. Também existem bloqueios nas estradas para limitar o direito de locomoção e trabalho dos palestinos. Israel é um estado judeu e os palestinos são árabes muçulmanos.
Em abril deste ano, a ONG Human Rights Watch, observatório internacional de Direitos Humanos, divulgou um relatório usando o termo “Apartheid” para definir os termos “desumanos” que o Estado de Israel utiliza para promover uma opressão sistemática contra os palestinos. O governo israelense repudiou o uso do termo.
“No território israelense, onde se tem princípios supostamente democráticos que valem para todo mundo, existem discriminações contra os árabes palestinos. Mesmo que eles tenham o direito a representação no parlamento, existem uma série de obstáculos que criam uma cidadão de segunda classe dentro de Israel. Há leis sobre casamento e para ter carteira de identificação precisa ser da religião. São instrumentos que criam condições para a discriminação, como no Apartheid”, explica o professor Paris Yeros, da Universidade Federal do ABC, em entrevista à Alma Preta.
Nas áreas de conflito de território, como a faixa de Gaza, Cisjordânia e parte de Jerusalém, as condições de vida dos palestinos são ainda piores. “Nos territórios ocupados as pessoas não têm direito ao voto. É uma reprodução do bantustão sul-africano, da época do Apartheid, com reservas de trabalho, que são separadas, sem representação política, mas são auxiliares à Israel”, analisa o professor Paris, que também é doutor em economia internacional.
Acordo secreto
Uma aproximação entre Israel e o estado racista da África do Sul aconteceu na década de 1970, quando foi feito um acordo secreto de uso de armas nucleares, que seriam usadas contra a população negra sul-africana. As provas dessa negociação foram apresentadas em maio de 2010, pelo jornalista americano Sasha Polakow-Suransky, no livro ‘The Unspoken Alliance: Israel’s Secret Relationship with Apartheid South Africa’ (A aliança silenciaosa: a aliança secreta de Israel com a África do Sul do apartheid), ainda sem uma edição em português.
De acordo com o livro, na segunda metade da década de 70, Israel queria expandir sua indústria de armamentos, incluindo armas nucleares, e iniciou uma aliança com os africanêrs. A ocupação feita por israelenses em territórios palestinos começou em 1967. A ideia era de que a África do Sul fosse uma espécie de ‘laboratório’ de guerra para conflitos futuros. Oficialmente, no entanto, Israel se declarava contra o Apartheid.
O livro de Polakow-Suransky revela que os acordos secretos para fornecimento de armas para a África do Sul chegaram a milhões de dólares, furando o embargo internacional.