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Maior jornal da Argentina usa expressão racista sobre a África em reportagem da Covid-19

13 de julho de 2020

Texto publicado pelo jornal Clarín usa a expressão “Africaniza” como processo de empobrecimento, fim da classe média e aumento da fome na Venezuela durante pandemia

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Torcida River Plate

O Clarín, jornal mais popular da Argentina, publicou uma reportagem sobre a crise humanitária na Venezuela por conta da pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, usando uma expressão racista no título. O texto sobre os impactos da hiperinflação saiu na editoria “Mundo”, em 8 de julho, e usa a expressão “Africaniza” como processo de empobrecimento, fim da classe média e aumento da fome na Venezuela.

O cientista político Federico Pita, criador da Fundação Diáspora Africana Argentina, diz que o uso de estereótipos e generalizações sobre a África são frutos do racismo e comuns na imprensa.

“É uma tendência global nos grandes meios de comunicação. Isso acontece no Brasil onde vivem mais de 100 milhões de afrodescendentes. Em cada território, o racismo se expressa de forma particular em relação ao seu contexto histórico, mas o objetivo é sempre o mesmo, a supremacia racial branca”, afirma Pita. 

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Reportagem publicada pelo jornal Clarín em 8 de julho de 2020. (Foto: Reprodução)

Fundado em 1945, o Clarín é um jornal de linha editorial conservadora. Em 2013, foram revelados documentos oficiais sobre a Ditadura Militar na Argentina e o jornal foi apontado como aliado do regime que durou de 1976 a 1983 e deixou mais de 30 mil mortos e desaparecidos. Segundo os documentos, o jornal recebeu dos militares ajuda para a compra de uma fábrica de papel, a Papel Prensa, em 1978. 

“A direção do Clarín defende uma linha política anti-venezuela, com base também em um racismo residual no mundo editorial”, recorda Pita, que também é autor autor do artigo “Así es el racismo criollo”, sobre o racismo na Argentina.

Em 2010, o governo argentino entrou com uma ação contra o Clarín por “crime contra a humanidade”, argumentando que a venda da fábrica se deu através de ameaças, torturas e prisões de membros da família que era dona da empresa de papel.

O jornalista Leonardo Fernandes foi correspondente na Venezuela por cinco anos, entre 2008 e 2013, e acompanha de perto a situação política e econômica do país. “Essa abordagem do Clarín é racista. A sociedade venezuelana não é branca. Ela é indígena, negra e parda, que se destaca pela diversidade dentro de um processo popular e democrático”, sustenta.

Para Fernandes, a reportagem também é tendenciosa sobre a situação real da Venezuela. “É verdade que a situação é gravíssima, mas é verdade também que o país enfrenta isso por conta de decisões unilaterais de governos estrangeiros em bloquear a Venezuela economicamente. Em plena crise, um banco inglês entregou ao governo paralelo ilegítimo, as reservas de ouro que o país tinha guardado justamente para situações como essas da pandemia”, explica.

O Alma Preta procurou o jornal Clarín e questionou o uso da expressão “Africaniza” na reportagem e o teor racista da comparação. Até a publicação deste texto, o jornal argentino não se pronunciou.

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