No extremo leste da capital, familiares se uniram para lembrar que vidas negras importam; policiais sem identificação acompanharam o ato
Texto: Pedro Borges e Juca Guimarães I Edição: Pedro Borges I Imagem: Pedro Borges
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A morte por execução de pelo menos seis jovens negros na região Leste da capital paulista, em um curto intervalo de tempo, levou centenas de pessoas ao protesto contra o genocídio da população negra e a violência policial, na tarde deste sábado (dia 4).
Familiares dos jovens mortos levaram cartazes com os nomes dos mortos e vários sinais de interrogação, pedindo Justiça.
“A importância de estar aqui é para mostrar que, se não tiver ato com visibilidade, fica mais um caso, a sociedade banaliza, a comunidade fica com medo. É preciso mostrar para as famílias que eles não estão sozinhos, eles precisam expressar a voz, fazer as homenagens, mostrar a saudade, a indignação e a revolta. Tá na hora de dizer basta! Chega de ficar enterrando jovens”, disse Katiara Oliveira, da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio.
O protesto é contra as mortes provocadas por agentes das forças de segurança pública, entre outras violências que ocorrem nas abordagens. “Como acontece em várias quebradas, eles dizem que estão combatendo o crime, mas na verdade estão cometendo crimes ao forjar provas, torturar, executar, muitos meninos desses já foram torturados antes em abordagens. As famílias não podem abaixar a cabeça. Elas têm que correr atrás da responsabilização do Estado e pedir indenização, esses jovens trabalhavam e ajudavam em casa, mesmo assim a vida deles não vai voltar”, diz Katiara.
Paulo, Leonardo, Igor, Felipe, Brayam e Mateus são alguns dos jovens mortos nos últimos meses na região, onde vivem cerca de 220 mil pessoas. Segundo o último levantamento da Secretaria Municipal de Igualdade Racial, feito em 2015, os negros representam 55,4% dos habitantes de Cidade Tiradentes.
“A polícia oprime muito e acha que pode tirar a vida dos jovens pretos. Hoje as pessoas estão protestando contra isso”, diz Graziela Alves de Oliveira, desempregada e irmã do Mateus.
Ela contou que o irmão estava saindo de casa no final do mês passado, quando foi seguido e morto por policiais. “Não ligaram sirene nem nada, só seguiram e mataram. Outros jovens foram mortos do mesmo jeitos, muda um ou outro detalhe”, diz Graziela.
Na região, segundo os manifestantes, a violência não deu trégua nem durante a pandemia do covid-19, o novo coronavírus.
“É inegável que a violência se concentra nas periferias. Na Cidade Tiradentes, desde o começo da pandemia tem aumentado do policiamento ostensivo e assassinatos inexplicáveis, mas na verdade quem mora na quebrada sabe o motivo”, Elaine Mineiro da Uneafro.
Sem identificação
O ato começou às 13h na praça 65, na avenida dos Metalúrgicos e seguiu em caminhada até o terminal de ônibus do bairro. Uma grande quantidade de policiais militares acompanhou o ato. Alguns policiais estavam sem a identificação de nome e patente no uniforme, contrariando o regimento interno da PM, especificamente o artigo 112, do capítulo IX, sobre identificação nominal.
“Os que não usam a identificação demonstram que estão mal intencionados. E há premeditação para cometerem abusos e não serem identificados”, diz Ariel de Castro Alves, advogado, especialista em direitos da infância e juventude e conselheiro do Condepe – Conselho Estadual de Direitos Humanos.
O ouvidor da Polícias do Estado de São Paulo, Elizeu Lopes, viu as imagens que mostram policiais sem a identificação. “Vamos pedir explicações ao Comando Geral da PM e a Corregedoria sobre procedimento que a rigor deveriam todos estarem com as devidas identificações”, diz o ouvidor.