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Caso Lorena: ‘Estou muito triste pela falta de respostas da justiça’, diz mãe

Cinco meses após a morte da filha, mulher trans, Elizângela Muniz se vê desesperançosa sobre desfecho do caso de negligencia médica; clínica aparenta estar funcionando normalmente e indiciados respondem processo em liberdade

Texto: Victor Lacerda I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução/Instagram

Lorena, mulher trans que foi deixada em incêndio dentro de clínica e acabou falecendo

Lorena, mulher trans que foi deixada em incêndio dentro de clínica e acabou falecendo

26 de julho de 2021

O pedido que não cessa no dia a dia de Elizângela Muniz é o de que a filha não seja esquecida e que o seu caso tenha um desfecho justo. Após cinco meses da morte de Lorena Muniz – vítima de negligência médica ao ser deixada em meio a um incêndio na clínica onde realizou cirurgia para inserção de prótese nos seios – a mãe se vê desesperançosa com a postura da justiça e pede por celeridade na punição dos responsáveis.

“Estou muito indignada com o andamento da justiça e muito triste pela falta de respostas sobre essa situação com minha filha. Acredito que o que prevalece nesse processo é o dinheiro. Se fosse uma vítima de uma família com condições financeiras, os culpados já estavam presos e a clínica não estaria funcionando” afirma Elizângela, em entrevista à Alma Preta Jornalismo

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A mãe se refere a todo o processo de investigação feito pela Polícia Civil de São Paulo após o caso registrado em fevereiro. Ela aponta, especificamente, a falta de acompanhamento da clínica onde ocorreu o falecimento, identificada como “Clínica Saúde Aqui”, por parte da Vigilância Sanitária. Na última semana, o portal de notícias G1 publicou uma matéria em que mostrava duas mulheres com sinais de intervenções cirúrgicas saindo da clínica apontada sob a coordenação do mesmo agenciador da cirurgia de Lorena, Paulino de Souza. 

Paulino é um dos nomes que respondem aos inquéritos policiais abertos. Os diretores da Clínica Saúde Aqui, os sócios da Clínica Paulino Plástica, localizada na Grande São Paulo, e membros da equipe médica foram os indiciados. Entre eles, quatro por homicídio doloso – quando uma pessoa mata outra intencionalmente – e as outras duas pela omissão de socorro, por não terem ajudado a retirar Lorena, sedada, durante incêndio. 

Leia também: “Nada vai trazer minha filha de volta”, lamenta Elizângela, mãe de Lorena Muniz

Além de todos os acusados responderem ao processo em liberdade, a unidade de procedimentos estéticos, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, por meio de vigilância, funcionava e, se houver, de fato, dado continuidade às operações, funciona sem licença sanitária. 

Publicações nas redes sociais da clínica seguem convidando para procedimentos semelhantes ao de Lorena Muniz com o pretexto de “realizar sonho”. Para Elizângela, a situação é difícil de acreditar”. Segundo ela, a falta de celeridade de medidas mais efetivas por parte da justiça pode ser justificada pela origem pobre da vítima. 

“Vivo acompanhando as publicações nas redes sociais e me assusta ver que tratam como se nada tivesse acontecido. Minha esperança é que a justiça tenha coração e que se ponha no meu lugar de mãe e no da nossa família. Gostaria de saber: e se fosse a família deles? Como seria? Infelizmente a mãe de Lorena, mulher negra, que mora em favela e que é pobre, não tem condições nenhuma de fazer mais do que pode”, desabafa Elizângela.

Organização para acolher pessoas trans e travestis

Como transformação do luto em luta, Elizângela conta que tem se dedicado aos estudos e a possibilidade de fundar uma organização que sirva de acolhimento a outras pessoas transexuais e travestis do Recife e região metropolitana. O plano é somado ao desejo de colocar cerâmica no salão de beleza em homenagem ao antigo trabalho da filha, que deverá ser aberto no próximo mês de outubro. 

A mãe ainda conta que dividiu em 89 vezes parcelas de R$ 110 para se precaver a data em que Lorena será exumada. Para Elizângela, é importante que a filha seja lembrada da melhor forma e que as pessoas possam visitá-la em seu próprio jazigo. 

Leia também: Caso Lorena: Clínica responsável pela morte da cabeleireira ignora notificações

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