Um grupo de 26 amigos da Barra da Tijuca e de Niterói, no Rio de Janeiro, planejou por três meses uma viagem de ônibus até o Uruguai para acompanhar a final da Taça Libertadores da América, no último dia 27. Na volta, no domingo (28), os turistas negros que faziam parte da excursão foram barrados na porta da churrascaria Cabanha’s, na cidade de Araranguá, em Santa Catarina, bem na frente de uma base da polícia rodoviária.
No ônibus, estavam empresários, comerciantes, advogados, músicos e profissionais autônomos que preferiram alugar um ônibus e passar uns dias juntos e curtir a viagem pelo Sul do Brasil.
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“Tinha crianças e idosos no grupo. Na ida para o Uruguai paramos em vários restaurantes e fomos muito bem tratados. Lá em Santa Catarina, na volta, aconteceu isso aí”, explica Robson Barreto, 51 anos, publicitário, um dos organizadores da excursão.
Barreto diz que quando o ônibus chegou, uma parte do grupo, com pessoas brancas, entrou na churrascaria para ver se tinha espaço e se o local era agradável para que eles fizessem a refeição. Quando verificaram que tinha espaço suficiente e a comida no buffet tinha uma aparência boa, eles avisaram o restante da excursão.
Na hora em que um segundo grupo, com pessoas negras, ia entrar na churrascaria Cabanha’s, um funcionário barrou a entrada e disse que não seriam mais servidas refeições a partir daquele momento. Surpreso, o grupo tentou argumentar e questionar a mudança de tratamento e o constrangimento.
O músico Gerson Dupand eram um dos turistas e foi conversar com policiais rodoviários que estavam próximos do local para relatar a situação. “O policial ouviu, mas não fez nada. Quando chegaram os outros polícias foi igual e ficaram dando razão ao dono do restaurante. Eu viajei por vários países, toquei samba em diversos continentes, convivi com outras culturas e nunca fui discriminado. É revoltante ver isso no nosso país”, compartilha.
O comerciante William Lima Cordeiro, 31 anos, também ajudou a organizar a viagem e chegou a entrar antes no restaurante. “Tinham muitos lugares vazios e comida. Éramos 26 pessoas e tinha cerca de 200 cadeiras, pelo menos. O dono disse que não tinha comida, mas era óbvio que tinha. Eu e dois amigos entramos, em seguida, nossos amigos negros foram entrar e ficaram impossibilitados”, lembra.
Por conta do impasse, o grupo decidiu sair e ir comer em outro estabelecimento na estrada, depois decidiram procurar a justiça para denunciar o ato discriminatório e o constrangimento. Foram feitos vídeos por quem ficou dentro e por quem foi barrado do lado de fora.
Cordeiro conta que tinha oito parentes na excursão e o grupo não tratou ninguém do restaurante com desrespeito. “Estavam o meu avô, o meu sogro, o meu filho e primos. Eu estava com a minha família e amigos. Foi realmente muito estranha a reação do restaurante”, afirma o comerciante.
A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com um representante da Churrascaria Cabanha’s. Por mensagem de texto, o funcionário disse que o grupo foi “mal educado” e que foram “pegos de surpresa”.
Segundo esse funcionário, quando o grupo chegou, o estabelecimento “já estava fechado e a comida do buffet era suficiente para satisfazer somente os clientes que já ali estavam”. O funcionário contou também que a churrascaria “atende todo o tipo de público” e “tem funcionários negros que trabalham lá”.
A reportagem questionou se o grupo tinha tido alguma atitude desrespeitosa e agressiva, fora questionar a ação discriminatória. A resposta foi: “Pra tumultuar não precisa quebrar nada né amigo, não falei que quebraram nada”. O funcionário da churrascaria disse também que o grupo fez “vitimismo”.