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Homenagens e protestos marcam os dois anos do Massacre de Paraisópolis

Em 2019, durante uma operação da polícia militar em um baile funk, nove jovens foram mortos; trabalho da Defensoria aponta erros na versão da polícia sobre o caso; entenda

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Juca Guimarães

dois anos do massacre de Paraisópolis

1 de dezembro de 2021

Os nove jovens que morreram no massacre de Paraisópolis, em São Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019, eram trabalhadores, estudantes e amados por suas famílias. Também tinham em comum a vida cotidiana dura de quem mora nas periferias. Para relembrar suas histórias e cobrar justiça, acontece nesta quarta-feira (1) um ato no Anhangabaú e uma missa na praça da Sé, organizados por amigos e parentes das vítimas. No final da tarde, os moradores farão uma marcha na comunidade.

“Ele tinha 16 anos, uma vida inteira pela frente, muitos sonhos, que foram roubados naquela noite. Foi roubada de maneira injusta e cruel. Foi uma mentira que a polícia contou. Não tinha nenhuma mancha de pé na roupa do meu irmão. Muitas provas mostram que a polícia é a responsável pelas mortes”, lamenta Danylo Amilcar, irmão de Dennys Henrique, uma das vítimas.

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Um trabalho detalhado da Defensoria Pública e do CAAF (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com base nos documentos oficiais, cruzamento de dados e depoimentos, aponta erros e levanta dúvidas sobre a versão da polícia sobre o massacre.

“Já são dois anos. É muito cansativo. Eu queria poder gritar e dizer que a justiça foi feita, mas ela não foi feita. A minha vida foi destruída, a gente luta e luta. O meu filho foi morto e isso não pode ficar impune”, declara Adriana Regina, mãe de Dennys Guilherme Franco, que tinha 18 anos.

As vítimas, que eram moradoras de outros bairros da capital e cidades da região metropolitana, estavam no baile da DZ7 com milhares de outros jovens. A versão da polícia conta que PMs da Rocam – policiamento feito de motocicleta – foram recebidos a tiros por duas pessoas que estavam numa moto e que fugiram em direção ao baile.

Ainda segundo a versão do registro, os policiais pediram reforço e 10 viaturas foram para o local, mas os dois suspeitos fugiram. Então, começou o tumulto, com resistência contra a ação da polícia, que resultou no pisoteamento das vítimas. Elas teriam sido socorridas, porém, chegaram mortas ao hospital do Campo Limpo. Os policiais usaram balas de borracha, bombas e cassetetes contra o público do baile, que tentavam achar um abrigo.

A investigação da Defensoria apurou três frentes de análises que confirmam as suspeitas levantadas pelos familiares. Naquela madrugada, não houve resistência, não foi o pisoteamento a causa das mortes e não houve socorro às vítimas, pelo contrário, os corpos foram retirados do local já sem vida para dificultar as investigações e a responsabilização dos culpados.

Nas periferias, os frequentadores dos bailes funk relatam que rotineiramente os policiais fazem o ‘estouro de manada’ (para dispersar a festa com tiros e bombas) e o ‘bote da coral’ (seguem os jovens com as luzes da viatura apagadas para fazer o enquadro).

No dia do massacre de Paraisópolis, aconteceu uma ‘Operação Pancadão’. “É uma política de morte, uma política de Estado, do governador Dória, que mata não só em São Paulo, mas também em diversas cidades do interior. Isso precisa ser denunciado porque os jovens estão morrendo porque querem se divertir. Não vamos parar pela memória deles. Não vamos nos calar diante da opressão. Meu irmão gostava de funk, gostava de futebol e não tem nenhum problema nisso. O problema é a polícia cercar mais de 5 mil pessoas em vielas para que elas morram”, denuncia Danylo Amilcar.

Policiais seguem afastados

No mês de julho, após longa batalha dos familiares, o Tribunal de Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra 13 dos 31 policiais envolvidos no caso. Um por explosão de bomba e 12 por homicídio qualificado, que serão levados a júri popular, ainda sem data marcada.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública para entender as divergências entre as informações e dados apontados pela Defensoria e os familiares, em relação à versão dos 31 policiais envolvidos na caso. Em nota, a secretaria respondeu que os fatos foram investigados pela delegacia especializada em homicídios e pela própria PM. Os policiais “seguem afastados das atividades operacionais”.

“A Operação Pancadão da PM é uma ação que tem o intuito, com o aval do governo, de promover o silêncio nas periferias, mas eu sempre me pergunto como é que eles vão promover o silêncio com violência? A gente precisa de políticas públicas para garantir os direitos da juventude de ocupar as ruas, aliás o que já é previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. É do nosso direito ocupar praças e ruas para promover a cultura periférica. O funk é uma cultura legítima. A ‘Operação Pancadão’ é opressora e racista”, pontua Renata Prado, pesquisadora, pedagoga, dançarina e membro da Frente Nacional de Mulheres do Funk.

Memória

Nesta quarta-feira, ao meio-dia, o CAAF vai lançar a série ‘Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas’com vídeos narrados por ativistas e artistas como Anelis Assumpção, Chico César, Chavoso da USP, Roberta Estrela D’Alva, entre outros. A produção vai contar as histórias de Bruno Gabriel dos Santos, Dennys Guilherme, Denys Henrique Quirino da Silva, Eduardo da Silva e dos Santos Franco, Gabriel Rogério de Moraes, Gustavo Cruz Xavier, Luara Victória Oliveira, Marcos Paulo Oliveira dos Santos e Mateus dos Santos Costa. Os vídeos também apresentam o resultado da investigação que aponta as falhas e divergências na versão oficial da polícia sobre o massacre em Paraisópolis. 

Este ano, a Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou o dia 1º de dezembro como o Dia da Juventude Negra e Periférica, proposta feita pela Bancada Feminista, do PSOL. No final do dia, a partir das 18h30, vai acontecer a primeira marcha para marcar a data, em Paraisópolis.

“É muito importante a participação dos jovens negros e periféricos na construção de políticas públicas antirracistas. A data é um avanço significativo em direção ao reconhecimento da potência da juventude periférica contra a brutalidade policial”, disse a co-vereadora Paula Nunes (PSOL).

O ato promovido por entidades da sociedade civil organizada e familiares das vítimas no Vale do Anhangabaú está marcado para começar às 13h. Na sequência, será realizada uma missa na Praça da Sé.

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