PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Identificação faz pessoas negras buscarem atendimento com psicólogos também negros

nelson_gentil2_ok

27 de agosto de 2020

Neste 27 de agosto, dia do psicólogo, o auto cuidado e a importância de buscar cura para o racismo são destacados por prifissionais negros

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Pessoal/Nelson Gentil

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

A psicologia, assim como outras áreas da saúde, é majoritariamente ocupada por profissionais brancos. Neste dia 27 de agosto é comemorado o dia do psicólogo e os profissionais negros da área destacam que o atendimento feito por pessoas negras gera identificação em pacientes negros, além de ser um ato político de contribuir para a cura contra o racismo. Os psicólogos negros ressaltam também que são buscados por pessoas negras após experiências relacionadas a questões raciais serem invalidadas por profissionais brancos.

De acordo com o psicólogo Nelson Gentil, isso ocorre porque a psicologia foi feita por brancos e para atender brancos, portanto, ressalta que uma pessoa atendida por um profissional negro já é um ato político. “Estar nesse local que numa sociedade racista não nos cabe é muito importante. Produzir atendimento clínico pautado em questões raciais, que não são incluídas na matriz curricular da psicologia. Isso traz um ganho como povo e sociedade, já que a psicologia em si não atende e acolhe nossas demandas. Precisamos desses profissionais pretos fazendo esse trabalho para os nossos”, afirma.

O psicanalista Kwame Yonatan dos Santos, doutorando pela PUC-SP, acrescenta que todas a profissões deveriam ter profissionais negros, mas que a realidade do Brasil, marcada pelo colonialismo e pelo racismo, impede que o percentual de profissionais seja proporcional ao de negros na sociedade. “Ter psicólogos negros rompe com um dos aspectos do racismo estrutural que inviabiliza o acesso de pessoas negras ao ensino superior. Na minha experiência, uma quantidade grande de pessoas fala o quanto é importante eu ser um psicólogo negro escutando-as. Isso está ligado à identificação, ao reconhecimento, representação de uma legitimação de que racismo produz sofrimento”, ressalta. Outro aspecto, segundo Kwame, é que mostrar a existêncoa de profissionais negros na área da psicologia quebra a imagem que foi construída acerca do ser negro, de subalternidade.

Para o psicanalista, não é necessário ser negro para ouvir experiências de racismo, mas ele recorda que já ouviu diversas vezes que foi escolhido após os pacientes serem atendidos por profissionais brancos que não sabiam o que era racismo. “Isso mostra desconhecimento das questões raciais por parte de uma grande gama de profissionais. Ainda existe defasagem de estudo sobre o tema por parte das pessoas brancas, o que torna essa escuta bastante deficitária”, considera.

A psicóloga Mariana Cancoro de Matos ressalta que a questão da identificação é primordial para que pessoas negras escolham profissionais negros da área, como forma de garantir que suas experiências em relação ao racismo não sejam deslegitimadas. “Muitos psicólogos brancos não estão a par dos processos sociais de raça e podem ter dificuldade de entender e acabar patologizando a nossa hostilidade, desconfiança em relação a pessoas brancas. Eles poderiam ver como algo que precisa tratar de alguma forma, sem entender a história, o contexto”, sustenta.

Terapeuta, Mariana também escolheu uma psicóloga negra para acompanhar seus processos e afirma que esse encontro é “potente”. “As psicólogas negras têm mudado a cara da psicologia para melhor. Chama a atenção para a psicologia social e também para os saberes do povo preto. Nossa história é muito impactada pelo racismo e pelo discurso que a branquitude tem sobre nós, então, é super importante que a gente se encontre entre nós para contarmos nossa história na primeira pessoa e para nos celebrarmos e nos curarmos”, reforça.

Ela acredita que é possível pessoas negras estabelecerem bons vínculos com profissionais brancos e destaca que é importante “não ser um pontinho preto num mar de branquitude. É preciso nos encontrarmos e a terapia é um dos lugares onde esse encontro é possível”.

Gentil, que atua no Rio de Janeiro, também reitera que o conhecimento produzido em rede pelas pessoas negras é considerado importante para vencer os obstáculos colocados pelo racismo. “Mesmo dentro de estrutura racista que estamos, ver pessoas que entram nos nossos consultórios destruídas, pessoas bonitas que não conseguem se ver como pessoas e ver essa transformação a partir do trabalho, produzir potencias, mesmo com todo esse sistema tentando nos matar, vejo nosso trabalho como ato político, de resistência, saúde mental é revolucionário e vai contra todo esse sistema que tenta nos matar, nos embranquecer e capturar os nossos corpos. Há uma estrutura racista muito concretizada, mas dizemos por meio de nossos trabalhos que é possível sair desse lugar”, finaliza.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano