PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Livro sobre racismo estrutural é censurado em escola do RS; governo condena

A obra "Avesso da Pele" de Jeferson Tenório foi alvo de críticas por uma diretora de escola que orientou a retirada dos exemplares das bibliotecas
A imagem mostra o autor do livro “O Avesso da Pele”. A obra foi alvo de censura em uma escola do Rio Grande do Sul.

Foto: Carlos Macedo / Divulgação

5 de março de 2024

O livro “O Avesso da Pele”, do escritor Jeferson Tenório, foi alvo de censura por parte de uma escola em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. A diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, Janaina Venzon, solicitou a retirada da obra das bibliotecas da instituição por considerá-la inapropriada.

Nas redes sociais, a diretora publicou um vídeo onde critica o conteúdo do livro que trata de racismo estrutural, violência policial, cotidiano escolar e identidade e relações de um jovem negro. Verzon disse que o livro contém “vocabulário de baixo nível” e criticou o que entendeu como “vulgaridade” um trecho que descreve cenas de sexo. A publicação foi apagada pouco depois. O volume é destinado a alunos do ensino médio. 

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, e a ministra da cultura (MinC), Margareth Menezes, condenaram a tentativa de censura e os ataques à obra. 

Em vídeo, Pimenta disse que “se trata de uma demonstração de arrogância, preconceito e covardia”. Margareth Menezes informou que repudia totalmente qualquer tipo de censura em relação à literatura nacional e que fará o que estiver no alcance, dentro da legalidade, para apoiar e combater esse tipo de ação.

A ministra da Cultura acrescentou que a escolha das obras utilizadas pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), não são feitas de maneira deliberada. Segundo ela, existem conselhos que analisam as obras antes de enviá-las como sugestões para as escolas.

O autor, publicou no Instagram um texto que também critica a fala da diretora, onde diz ser curioso o fato de palavras de baixo calão e atos sexuais causarem mais incomodo que o racismo, violência policial e a morte de pessoas negras.

Em nota, o MEC explicou o processo de inclusão de livros didáticos na grade escolar. Segundo a pasta, os professores escolhem as obras que serão adotadas em sala de aula e envia os exemplares mediante a solicitação dos educadores. O comunicado ainda informa que o livro “O Avesso da Pele” entrou no programa em 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), junto com outros 530 títulos.

O livro “O Avesso de Pele” foi traduzido para 16 idiomas e recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário em 2021. O livro trata das relações raciais, sobre violência e negritude e identidade na história fictícia de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado em uma desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Patricia Santos

    Jornalista, poeta, fotógrafa e vídeomaker. Moradora do Jardim São Luis, zona sul de São Paulo, apaixonada por conversas sobre territórios, arte periférica e séries investigativas.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano