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Mais de 80% das pessoas em situação de rua na Cracolândia, em SP, são negras 

Relatório aponta que 81% das pessoas na região são negras e analisa impacto das políticas de segurança, assistência social e internação
Moradores da Cracolândia após a prefeitura e o governo de São Paulo instalarem grades e delimitar espaço de usuários de drogas.

Moradores da Cracolândia após a prefeitura e o governo de São Paulo instalarem grades e delimitar espaço de usuários de drogas.

— Paulo Pinto/Agência Brasil

3 de março de 2025

A população da Cracolândia, no centro de São Paulo, é majoritariamente negra, segundo um relatório que analisa as condições de vida, a relação com o Estado e o impacto das políticas públicas no território. O estudo identificou que 81% das pessoas em situação de rua na região são negras, sendo 66% homens negros e 16% mulheres negras.

A faixa etária predominante está entre 30 e 49 anos (78%), e a maioria dos entrevistados (62%) não concluiu o ensino médio. Em relação à moradia, 96% relataram viver nas ruas, enquanto 3% utilizam centros de acolhida públicos.

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O estudo “Cracolândia pelos usuários” foi publicado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV), o Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP) e também o Grupo de Estudos (in)disciplinares do Corpo e do Território (Cóccix)

Impacto da internação compulsória na Cracolândia

O relatório revela que 69% dos entrevistados já passaram por internações para tratamento de dependência química, e um terço deles foi internado mais de cinco vezes. Apesar da recorrência, a maioria não considera a internação uma solução eficaz, apontando a falta de suporte após a saída das instituições, o modelo religioso de tratamento e a ausência de autonomia dentro dos centros de acolhimento.

A pesquisa também destaca que, por conta da abordagem policial e do deslocamento forçado de usuários, o acesso aos serviços de saúde e assistência social se torna ainda mais difícil.

Os entrevistados manifestaram a necessidade de alternativas à internação compulsória, acesso ampliado à moradia e mais opções de atendimento em saúde. O estudo destaca que políticas públicas focadas exclusivamente na repressão não resolvem a questão da Cracolândia e aprofundam a vulnerabilidade das pessoas que vivem na região.

Acesso à saúde e violência policial

A atuação do Estado na região ocorre principalmente por meio da assistência social e dos serviços de saúde. A retirada de documentos é a principal ação oferecida pelo serviço social, enquanto o setor de saúde se concentra em atendimentos médicos e distribuição de medicamentos. No entanto, os entrevistados relataram desconfiança sobre a eficácia desses serviços e dificuldades no acesso.


A repressão policial foi citada como um dos principais fatores que agravam a situação da Cracolândia. O relatório aponta que operações de segurança são frequentes e incluem agressões, apreensão de pertences e deslocamento forçado dos moradores da região. Essa prática resulta na dispersão da população, na criação de novas cenas de uso de drogas e no aumento da insegurança.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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