A população da Cracolândia, no centro de São Paulo, é majoritariamente negra, segundo um relatório que analisa as condições de vida, a relação com o Estado e o impacto das políticas públicas no território. O estudo identificou que 81% das pessoas em situação de rua na região são negras, sendo 66% homens negros e 16% mulheres negras.
A faixa etária predominante está entre 30 e 49 anos (78%), e a maioria dos entrevistados (62%) não concluiu o ensino médio. Em relação à moradia, 96% relataram viver nas ruas, enquanto 3% utilizam centros de acolhida públicos.
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O estudo “Cracolândia pelos usuários” foi publicado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV), o Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP) e também o Grupo de Estudos (in)disciplinares do Corpo e do Território (Cóccix)
Impacto da internação compulsória na Cracolândia
O relatório revela que 69% dos entrevistados já passaram por internações para tratamento de dependência química, e um terço deles foi internado mais de cinco vezes. Apesar da recorrência, a maioria não considera a internação uma solução eficaz, apontando a falta de suporte após a saída das instituições, o modelo religioso de tratamento e a ausência de autonomia dentro dos centros de acolhimento.
A pesquisa também destaca que, por conta da abordagem policial e do deslocamento forçado de usuários, o acesso aos serviços de saúde e assistência social se torna ainda mais difícil.
Os entrevistados manifestaram a necessidade de alternativas à internação compulsória, acesso ampliado à moradia e mais opções de atendimento em saúde. O estudo destaca que políticas públicas focadas exclusivamente na repressão não resolvem a questão da Cracolândia e aprofundam a vulnerabilidade das pessoas que vivem na região.
Acesso à saúde e violência policial
A atuação do Estado na região ocorre principalmente por meio da assistência social e dos serviços de saúde. A retirada de documentos é a principal ação oferecida pelo serviço social, enquanto o setor de saúde se concentra em atendimentos médicos e distribuição de medicamentos. No entanto, os entrevistados relataram desconfiança sobre a eficácia desses serviços e dificuldades no acesso.
A repressão policial foi citada como um dos principais fatores que agravam a situação da Cracolândia. O relatório aponta que operações de segurança são frequentes e incluem agressões, apreensão de pertences e deslocamento forçado dos moradores da região. Essa prática resulta na dispersão da população, na criação de novas cenas de uso de drogas e no aumento da insegurança.