PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

O gatilho de uma estrutura: encontro na Bahia discute política para segurança pública que responsabilize ‘além do policial’

O 1º Encontro de Policiais Progressistas da Bahia destacou a importância da segurança pública alinhada com os direitos humanos e justiça social.
Imagem enquadra quatro pessoas sentadas atrás de uma mesa. Duas são brancas, do lado esquerdo, sendo um homem e uma mulher branca, e dois homens negros à direita.

Evento inédito contou com profissionais da segurança pública e pesquisadores em mesas de palestras

— Alma Preta/Dindara Paz

14 de maio de 2025

“O policial, na verdade, é uma pontinha que só faz puxar o gatilho de toda uma estrutura. É ela que coloca ele naquele lugar, naquelas condições, com aquele nível de fragilidade de exposição e com o dedo no gatilho. Esse é o debate que eu acho que é central”.

A avaliação acima é do investigador Kleber Rosa, que atua na Polícia Civil há 20 anos. Mas ela é representativa da discussão da qual ele participou, no 1º Encontro de Policiais Progressistas da Bahia, que aconteceu nesta terça-feira (13), em Salvador.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O evento é inédito e teve o objetivo de consolidar um espaço permanente de escuta, formação e articulação política entre os profissionais da área.

O foco, segundo os organizadores, é construir uma “segurança pública alinhada com os valores democráticos, dos direitos humanos e da justiça social”.

O encontro aconteceu no  auditório da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e foi promovido pelo deputado estadual Radiovaldo Costa (PT-BA) em parceria com os Setoriais de Segurança Pública da Bahia. Entre os participantes estavam profissionais da segurança pública, pesquisadores e lideranças políticas.

Rosa, dono da declaração que abre este texto, pontuou a necessidade de se discutir a como identificar os problemas de estrutura das polícias. Para ele,  a responsabilidade por erros e mortes não pode ser apenas individual, na figura do policial, mas também da gestão.

“Nós precisamos responsabilizar quem de fato dirige a segurança pública. Independentemente da responsabilização individual, que é necessária. Então nós precisamos começar a cobrar e apontar o dedo para quem, de fato, é responsável por toda a estrutura”. 

Integração da segurança com outras políticas

A advogada, pesquisadora em segurança pública e atual assessora especial da Presidência da República, Tamires Sampaio, foi uma das integrantes das mesas do encontro. 

Ela ressaltou a importância da adoção de políticas públicas de segurança pública integradas com os demais setores públicos, como saúde, educação e cultura, por exemplo.

Dados do Atlas da Violência, divulgados no início desta semana, apontam que, apesar da diminuição nos índices de homicídio no Brasil na série histórica, as taxas de feminicídio, homicídios contra jovens e pessoas negras continuam em crescente no país. A Bahia é o segundo estado com maior taxa de morte entre jovens.

Leia mais sobre segurança pública:

“Construir política de prevenção de maneira articulada com as forças de segurança e as áreas mais sociais faz diferença em uma gestão que se propõe a enfrentar a violência. E, inclusive, faz diferença nesses recortes de gênero e raça desses indicadores que a gente mostrou”, destaca Sampaio.

A partir de sua experiência como gestora de segurança pública em Diadema e coordenadora do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Sampaio fala sobre os desafios e caminhos de debater a segurança pública do ponto de vista cidadã.

“Isso é um desafio porque a gente está falando de mais investimento, de dados, de uma intersecção de áreas que muitas vezes não têm relação. É uma disputa política de um projeto de país. Porque, nos últimos anos, a gente viu crescendo essa lógica do fascismo, que traz para a sociedade esse olhar de achar que a política de segurança pública é só violência e repressão, e não é”, explica a pesquisadora. 

O policial penal e ex-diretor de Inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo (SEAP-SP), Abdael Ambruster, ressalta a articulação entre os setores da administração pública no combate às desigualdades.

“Se a gente não trabalhar junto para que possamos sair unidos na segurança pública e fazer esse combate ao racismo, à homofobia, à transfobia, pouco a gente vai andar”, avalia Ambruster, que também é coordenador Nacional de Segurança Pública do PT e especialista em criminalística, segurança pública e direitos humanos.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano