Levantamento do Instituto Identidades do Brasil mostra que os efeitos da pandemia sobre as mulheres negras vão além dos impactos financeiros e se estendem à saúde emocional e psicológica
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Para 60% das mulheres negras, principalmente as de pele mais retinta, abrir o próprio negócio não se trata de uma opção de trabalho e sim a única opção de renda. É o que concluiu a pesquisa realizada pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR). O levantamento sobre a situação financeira, emocional e psicológica das mulheres negras foi feito em duas etapas distintas durante a pandemia da Covid-19, o novo coronavírus. A primeira aconteceu em abril e a segunda em julho.
Entre as 60% de mulheres empreendedoras por necessidade, 45% disseram que não conseguiram vaga ou reconhecimento no mercado de trabalho e 15% empreenderam por conta da situação financeira agravada pela crise da pandemia.
Segundo o estudo, quase metade das empreendedoras atuam na informalidade. De todas as empreendedoras, 56% dependem exclusivamente do retorno do negócio, 19% estão recebendo o auxílio-emergencial liberado pelo governo federal e 8% estão sem renda alguma durante a pandemia. Em relação aos estudos, 61% delas têm ensino superior completo, sendo que 31% fizeram pós-graduação.
Os efeitos da pandemia, de acordo com a pesquisa, não são só financeiros. Entre as empreendedoras negras, 81% perceberam mudança de comportamento, com impacto na saúde mental durante o isolamento. Dessas mulheres, 45% apontaram que precisam de apoio psicológico.
“Através dos dados apontados nesta pesquisa, entendemos que a situação financeira, emocional e psicológica da mulher negra é definitivamente delicada. Isso deveria servir como um estímulo para que as instituições e a sociedade construam mecanismos e políticas públicas e privadas que apoiem a subsistência dessas mulheres para uma futura recolocação no mercado de trabalho ou até mesmo no incentivo aos seus negócios”,diz Luana Génot, fundadora e diretora executiva do ID_BR.
No grupo formado por mães solo negras, 45% indicaram que seu adoecimento mental foi gerado por questões financeiras. “É importante termos em mente que a condição financeira deste grupo tende a se agravar à medida em que esse período atípico que estamos vivendo se estende. Precisamos olhar para elas”, analisa Luana.
Os perfis da pesquisa foram elaborados a partir das respostas de 294 mulheres, de todas as regiões. Cerca de 40% delas têm entre 30 e 39 anos de idade.