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Pesquisa mostra como guerra às drogas afeta saúde de quem convive com tiroteios

Estudo ouviu 1.500 moradores de comunidades do Rio de Janeiro e mostra que a violência provocada por agentes do Estado adoece e impede o acesso da população aos serviços de saúde

Texto: Redação | Foto: Ricardo Moraes

Imagem mostra policial armado em favela do Rio de Janeiro e mulheres e crianças logo atrás dele.

Foto: Foto: Ricardo Moraes

9 de agosto de 2023

As ações policiais que usam da violência como justificativa para combater o tráfico de drogas geram sequelas para a população de diferentes comunidades do Rio de Janeiro. As consequências, além de sociais, refletem no corpo e na mente da população. É o que mostra a pesquisa Saúde na Linha de Tiro: impactos da guerra às drogas sobre a saúde no Rio de Janeiro, produzida pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e lançada nesta quarta-feira (9).

O estudo fez uma comparação entre as três comunidades onde há mais ocorrências de tiroteios na cidade do Rio de Janeiro com as três com menor incidência de troca de tiros. Os dados mostram que mesmo com indicadores socioeconômicos semelhantes, o estado de saúde de quem mora em áreas de recorrente ação policial é mais fragilizada em relação a quem tem o menor convívio com essa prática.

Um dos efeitos mais evidentes em dias de operações policiais nesses locais é a paralisação imediata do serviço de saúde que existe no local. 59,5% dos moradores da Nova Holanda (no Complexo da Maré), CHP-2 (Complexo de Manguinhos) e Vidigal disse que a unidade de saúde já havia sido fechada como resultado da violência. Este índice cai para 12,9% entre as pessoas que vivem no Parque Proletário dos Bancários, Parque Conquista e Jardim Moriçaba.

“A guerra às drogas afeta toda a sociedade brasileira. Mas, são os moradores de comunidades, pobres e negros que mais adoecem com essa escolha política do Estado. Com essa pesquisa, queremos chamar atenção da sociedade para essa realidade”, afirma Julita Lemgruber, coordenadora do CESeC e do projeto Drogas: Quanto Custa Proibir.

Os principais sintomas causados pelo permanente clima de insegurança de quem mora nas áreas com a maior incidência de tiroteios são hipertensão arterial, insônia prolongada, ansiedade e depressão.

Maior risco de doenças como hipertensão

A pesquisa mostra que 51% dos moradores das comunidades mais expostas a tiroteios com presença de agentes de segurança sofrem com algumas dessas condições. Como comparação, apenas 35,9% dos moradores das regiões que não convivem na linha de tiro da polícia fluminense.

Os moradores de comunidades expostas à violência têm, por exemplo, 42% mais risco de desenvolver hipertensão.

“O contexto da violência armada no Rio de Janeiro tem uma singularidade em relação às outras cidades no Brasil. Nossos dados mostram que a guerra às drogas impede que as pessoas tenham acesso a um direito básico e universal como a saúde. Compreender os impactos dessa violência é essencial para a formulação de políticas que possam transformar essa realidade”, reflete Mariana Siracusa, coordenadora do estudo.

O aumento do adoecimento nas comunidades mais afetadas pela violência provocada por agentes de segurança acarreta um custo adicional para o Estado. O custo anual do tratamento de paciente com hipertensão arterial e depressão, por exemplo, pode variar entre R$ 69 mil e R$ 95 mil, em valores de 2022.

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