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Pesquisadores negros da linguística criam rede para combater práticas racistas

6 de julho de 2020

Cerca de 100 pessoas já se inscreveram para construir a “Repense”; iniciativa foi impulsionada por uma denúncia de censura feita em rede social

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Pixabay

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Para ampliar ações contra a desigualdade étnico-racial dentro e a partir da Linguística Aplicada e da Linguística foi lançada a Rede de Pesquisadores Negres de Estudos da Linguagem (Repense).  “Queremos saber quais são os linguistas brasileiros e quais pesquisas estão sendo desenvolvidas, seja por questões étnico raciais ou não, e vamos estruturar uma rede para que a gente possa se fortalecer”, explicou Wellton da Silva de Fátima, um dos fundadores.

Lançada em junho, a rede é formada por pessoas de todo o país que ainda estão na graduação, graduadas e pós-graduadas do campo da Linguística Aplicada e da Linguística. São 23 pesquisadores e pesquisadoras, que lançaram um formulário com quase 100 adesões até o momento. Dentre os objetivos estão: reunir e reivindicar a visibilidade de informações sobre linguistas negros e negras, pensar, construir e reivindicar formas de permanência de pesquisadores negros nos programas de pós-graduação e graduação, frente aos cortes orçamentários anunciado pelo governo brasileiro, nas esferas estaduais e federal.

A iniciativa de lançar a Repense ocorreu após Wellton ter seus comentários apagados e ser bloqueado no perfil do Instagram da Associação Brasileira de Linguística (Abralin). Em uma postagem contra o racismo, o professor sugeriu que a organização promovesse ações concretas de combate ao racismo e criticou o fato de que a maioria das pessoas convidadas para lives promovidas no perfil era branca.

No dia seguinte, em outra postagem, Wellton voltou a criticar a postura da organização e teve como resposta que se tivesse uma proposta concreta e fosse associado, que enviasse por e-mail e que “perseguição em rede social” ajudava pouco. Além disso, ele também foi bloqueado. Wellton denunciou o caso em um vídeo publicado no Instagram. Ele conta que desde então o perfil compartilha, nos Stories, prints de vários pesquisadores conhecidos nacionalmente em que citam a situação defendendo a associação. “A impressão que eu tive foi que houve a tentativa de difundir uma narrativa de que eu sou uma pessoa revoltada. Há várias pessoas já me chamando de mal-educado, de grosseiro. São vozes muito expressivas da linguística brasileira, que se posicionaram com parte do meu comentário no vídeo e distorcendo os fatos. Eu continuo bloqueado no perfil”, afirmou.

O pesquisador reclama da ação inadequada e desproporcional da Abralin nas redes sociais. “É impossível que uma só pessoa promova a perseguição contra uma associação. É juridicamente ridículo um CPF perseguir um CNPJ. O certo seria receber o comentário e não se defender mostrando tudo o que fazem, como a bolsa para hipossuficientes. Acreditaram que eu ia ficar quieto até por constrangimento, mas fiz o contrário”, pontuou.

Por telefone, o presidente da Abralin, Miguel Oliveira Jr, disse ao Alma Preta que a associação tem como política de gerenciamento de suas redes sociais o bloqueio de perfis que desabonam ou desacreditam a instituição ou que propagam discursos de ódio. “Ele foi extremante agressivo. Disse que a Abralin deveria parar de lacrar, fazer algo que preste e ter vergonha na cara. Depois de tudo o que temos feito. Isso beira o discurso de ódio. É um insulto desnecessário. Não bloqueei porque ele é negro, mas porque foi extremamente rude”, afirmou.

O presidente da associação se autodeclara negro e é quem administra o perfil da Abralin no Instagram. Oliveira Jr fala que foi necessário fazer vários ajustes na programação da associação e de postagens para formalizar um posicionamento público contra o racismo nas redes sociais, aderindo à hashtag Black Lives Matter.

Ele destaca ainda que há ações de inclusão, como a isenção de pagamento para quem está no Cadúnico e quem acessou a universidade por cota. Segundo o presidente, a associação também possui um fundo exclusivo para línguas indígenas. “Nenhuma associação dá acesso à diversidade como nós”, concluiu.

* Texto atualizado às 14h48 de 8 de julho de 2020 para a inclusão de informações.

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