O levantamento “Cultura nas Capitais” revelou que barreiras raciais ainda impedem a participação equitativa da população em atividades culturais. O estudo da JLeiva Cultura & Esporte indica que brancos acessam a cultura com mais frequência do que pretos, pardos e indígenas, apesar do interesse ser semelhante ou até maior entre esses grupos.
A pesquisa entrevistou presencialmente 19.500 pessoas com 16 anos ou mais, entre fevereiro e maio de 2024, em 1.930 pontos de fluxo populacional de diferentes perfis socioeconômicos. O estudo foi conduzido pelo Datafolha e utilizou o Critério Brasil de Classificação Econômica para segmentar os participantes nas classes A, B, C, D ou E.
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Brancos acessam mais atividades culturais
A pesquisa identificou que pessoas brancas lideram a frequência em bibliotecas (28%), museus (32%), teatros (29%) e locais históricos (49%). Já pessoas pretas registram maior presença em shows de música (44%), festas populares (39%), espetáculos de dança (27%) e saraus (15%).
Pardos apresentam os menores índices de acesso em quatro das 14 categorias analisadas e lideram apenas em circo (15%). Já os indígenas possuem os menores índices de participação em nove das atividades analisadas.
A pesquisa também revelou que pessoas amarelas apresentam os maiores índices de participação em cinema (59%) e jogos eletrônicos (59%), mas ficam abaixo da média em sete outras categorias.
Interesse alto, mas acesso à cultura limitado
Apesar de um forte interesse por atividades culturais, grupos não-brancos enfrentam barreiras para transformar esse desejo em participação efetiva. Negros registram maior interesse do que brancos por teatro (53% contra 51%) e festas populares (47% contra 41%), mas sua presença nesses eventos ainda é inferior. O mesmo ocorre com museus, dança e outros espetáculos.
Para João Leiva, idealizador do estudo, os dados revelam desafios e oportunidades.
“Embora pretos e pardos no Brasil geralmente tenham menor renda e menor escolaridade, isso parece se refletir apenas parcialmente no acesso à cultura nas capitais. Os brancos de fato vão mais a diversas atividades culturais. Os pardos aparecem um pouco pior, mas as pessoas pretas estão entre as que mais vão a shows, festas populares, apresentações de dança e saraus”, disse em nota de divulgação do estudo.
O estudo comparou a intenção de ir a eventos culturais com a frequência real e constatou uma discrepância expressiva. Em nenhuma das cinco atividades analisadas os brancos lideraram no interesse, apesar de terem maior acesso.
Indígenas são os mais excluídos culturalmente
A pesquisa revelou que os indígenas são o grupo mais excluído culturalmente. Em todas as 14 atividades analisadas, eles registram os maiores percentuais de não participação, com destaque para concertos (78%), teatro (53%) e museus (49%).
Nos 12 meses anteriores à pesquisa, metade dos indígenas acessou no máximo duas atividades culturais.