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Carta escrita pela escravizada Esperança Garcia inspira HQ

Carta foi uma das primeiras denúncias de maus-tratos no Brasil; HQ valoriza e resgata as origens da literatura afro-brasileira

 Texto: Redação | Ilustração: Valentina Fraiz

Imagem mostra ilustração de Esperança Garcia, escravizada que escreveu uma das primeiras denúncias sobre maus tratos no Brasil.

Imagem mostra ilustração de Esperança Garcia, escravizada que escreveu uma das primeiras denúncias sobre maus tratos no Brasil.

— Ilustração: Valentina Fraiz

18 de agosto de 2023

A HQ “A Voz da Esperança”, de Juliane Ferreira Vasconcelos, João P. Luiz e Bernardo Aurélio, foi inspirada na vida e luta da escravizada piauiense Esperança Garcia e na importância da carta escrita por ela, uma das mais antigas de denúncia de maus-tratos contra povos escravizados no país.

A publicação foi lançada oficialmente no 21º Salão do Livro do Piauí (SALIPI), que acontece até o dia 20 de agosto.

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“Embora no Brasil não se tenha registrado uma prática comum de publicação de obras escritas por autores escravizados ou ex-escravizados, nos Estados Unidos houve um número significativo de publicações dessa natureza, denominadas slave narratives, sobretudo a partir da segunda metade do século XVIII, tais como os relatos de testemunhos e epístolas de escravizados fugitivos”, conta Juliane, uma das autoras. “Produzir esse livro sobre a carta de Esperança Garcia é valorizar nossa raiz histórica e cultural”, acrescenta.

A história

Alfabetizada por jesuítas, Esperança entregou a carta ao governador da Província do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, no dia 6 de setembro de 1770 – data em que hoje se comemora o Dia Estadual da Consciência Negra. Nela, relatava a violência sofrida por parte do feitor da fazenda para onde foi levada para trabalhar como cozinheira. Pedia, ainda, que fosse devolvida à sua fazenda de origem, chamada Algodões, e que sua filha fosse batizada.

A carta de Esperança é considerada a primeira petição escrita por uma mulher na história do estado, daí o reconhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que a converteu em primeira advogada mulher do país e precursora da advocacia no Piauí.

Também é um documento importante para as origens da literatura afro-brasileira. “O manuscrito representa para esta literatura o mesmo que a Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1.500, corresponde para o cânone ocidental da literatura brasileira, como textos precursores”, afirma Juliane. “É certamente um dos registros escritos mais antigos da escravidão no Brasil, empunhado por uma escravizada negra e cativa, o que confere para a criação dessa narrativa gráfica o status de uma escritura da gênese literária afro-brasileira.”

A obra foi contemplada pelo edital Rumos Itaú Cultural e está disponível gratuitamente em formato de e-book. As cópias físicas serão destinadas às escolas públicas e quilombos.

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