Nem são dez da manhã do dia de Natal, baderna no quintal, eu e a preta sob o cobertor de lã, seminus e tal. Tios, tias, alguns que vararam a noite. Na moça dei beijos incomuns, a tristeza tomara que hoje não me açoite.
Acabamos de dormir “dane-se que é pra acordar”, eu só sorri pedi mais uns minutos pra com ela sonhar. Meu pessoal quer que eu decida: levanta ou balde de água fria. “Família em toda minha vida, nem na cadeia esse tratamento quando como detento tirei uns dia”.
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P.H colô, desbaratinado:
– Hoje nem falem de cabelo pelamô, me arruma um drink meu aliado.
Dia de natal, meus primos zum zum, no céu arde um sol, na real um sol pra cada um. Calça jeans de ontem sem camisa descalço pego um teco do panetone pra ofertar pra ela, meus olhos que vos contem, quando a olho realço, “cê bagunça seu ome, com seu riso aquarela”.
Só se ouve música alta, sabe como é favela, ela salta do barraco, como quem sai da ribalta, pra pisar na passarela. Os cara grita quando fala, as mina gesticula, pessoal pra frente meu povo é dessa. Minha pretinha se assusta, explico, “é assim a minha gente, parece treta, mas não é não, é assim que nois conversa”.
Uns se acomodam nas cadeiras outras degustam cachos de uva, criançada banho de torneira enquanto não cai chuva. Eu um sorrisão, cheio de paixão, minha vovó nota:
– Cara sempe fechada, hoje irradiante, parecendo um idiota.
Agora que noiz conta, coisas e causos com risada, causos que em qualquer um causa pânico, a gente conta como piada. São histórias de facadas, visitas em cadeia, mas noiz ri, não cicatrizou as feridas, mas noiz não alardeia.
Não são histórias fictícias, da Netflix ou da vida, saímos na mão com polícia, noiz tem parente suicida, mas noiz conta meio que normal, isso confunde minha preta, o riso dela se afasta ela fica mal, enxerga mil treta.
Uma tia pra piorar, que ela é danada, lembrou o pior do passado, bem ali onde minha mina tava sentada, foi onde meu tio morreu enforcado. Fechou o tempo, a chuva torrencial, a pretinha um triste templo, assustada e tal. Pediu o Uber e se foi, pra mim é sem boi, a natureza que se vira e move eu imploro, aproveito que tudo chove, demorono, choro mano e como choro.
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