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Entrada de ex-policiais na política afeta a democracia, diz pesquisa

Levantamento do Instituto Sou da Paz revela que houve aumento de 940% nas eleições de deputados federais ligados às forças de segurança pública entre 2010 e 2018

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

sessão de votação com urna eletrônica, estudo mostra alta de candidatos ex-policiais

sessão de votação com urna eletrônica, estudo mostra alta de candidatos ex-policiais

8 de julho de 2021

O Instituto Sou da Paz, ONG de pesquisa sobre violência e segurança pública, divulgou um estudo sobre a participação de 6 mil ex-policiais e militares na política nacional. De acordo com o levantamento ‘Policialismo: novo fenômeno político brasileiro?’, o novo cenário é marcado pela ascensão do bolsonarismo.

A análise da pesquisa conclui que o uso de atividades de segurança pública para promoção política e a adesão a posicionamentos contra a Constituição, contra o STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo, representam um risco à democracia.

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Nas eleições para a Câmara dos Deputados em 2010, foram eleitos quatro candidatos ligados às forças de segurança pública, ex-policiais e militares. Oito anos depois, foram eleitos 42 deputados com este perfil – uma alta de 940%. O estudo também apurou o mesmo fenômeno nas eleições municipais de 2012 a 2020. Essas candidaturas para a prefeitura aumentaram 129% (de 163 para 515).

A pesquisa mostra também que 57,5% desses candidatos ex-policiais são de direita, 30% de centro-direita, 9,5% de centro-esquerda e 3% de esquerda.

“Existem setores, carreiras e atividades, como as forças de segurança pública, o ministério público e a magistratura, cujos profissionais devem ser blindados contra interesses políticos e ideologias, para assegurar que o seu desempenho profissional seja pautado exclusivamente pela lei”, pontua Beatriz Graef, consultora do Sou da Paz.

Segundo o Instituto, o mais grave é que este novo fenômeno político já tem gerado motins e ações orientadas contra atores políticos determinados, seja em manifestações públicas ou investigações a partir da Lei de Segurança Nacional. Atualmente, a desincompatibilização entre a carreira na área de segurança e a candidatura para cargo político acontece em prazos que variam de 40 dias a seis meses antes das eleições.

“Esse prazo é muito curto e têm alguns projetos de lei com intuito rever essas regras, por exemplo, para que o profissional se afaste definitivamente da instituição e que aguarde um período maior para então poder se candidatar”, aponta Beatriz.

Segundo os dados do Sou da Paz, a maioria dos candidatos com perfil ligado às forças de segurança, com média de 50 anos de idade, são de nível social bem acima da média da população brasileira. Dos seis mil candidatos, 1.059 declararam um patrimônio com valor acima de meio milhão de reais, e 71 deles declararam mais de R$2 milhões.

O recorte racial, feito a partir da autodeclaração dos candidatos na ficha do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), indica que 46,4% são brancos, 40,6% são pardos e 11,4% são pretos. A representação de negros, soma de pretos e pardos, entre os candidatos com perfil ligado às forças de segurança é próximo da representação no todo da população brasileira, que é formada por 56% de pessoas negras, segundo o IBGE.

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