Recife recebe o título da primeira capital a possuir leis dedicadas ao combate ao preconceito e discriminação contra pessoas gordas. Na última semana, duas medidas antigordofobia foram publicadas no Diário Oficial do Município. As leis de número 18.831 e 18.832 apresentam, respectivamente, a criação do ‘Dia Municipal de Luta contra a Gordofobia’ em 10 de setembro (Dia Mundial de Combate à Gordofobia), além da adoção de medidas para assegurar a inclusão e proteção da pessoa gorda, com garantia de cadeiras escolares adequadas. Ações são fruto do diálogo entre o legislativo e coletivos locais dedicados à causa.
As legislações, sancionadas pelo prefeito João Campos (PSB) no último dia 16 de setembro, são de autoria da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), que contou com a contribuição do projeto ‘Mundo Plus em Movimento’ e coletivos como ‘Bonita de Corpo’ e ‘Gorda Sim’, todos presentes ativamente no município. De acordo com os projetos aprovados, instituir a data para o combate a gordofobia cumpre a missão de trazer luz ao debate e ao tipo de discriminação que atinge parte significativa da população, além de garantir o ensino livre de discriminação ou práticas gordofóbicas dentro das instituições de educação.
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Para Aline Sales, idealizadora do ‘Bonita de Corpo’ – coletivo dedicado à afirmação de corpos gordos, atuante no combate a gordofobia em Pernambuco desde 2018 – a conquista do título dado à capital é resultado de força coletiva que tem construído esse debate de variados métodos. “É uma grande conquista para entendermos que precisamos discutir a pauta com a devida seriedade. Colocaram tanto na cabeça das pessoas que falar sobre corpos gordos é falar sobre beleza e saúde que eu acredito que foi construído uma limitação quando se refere ao tema. Beleza é, para nós, uma pauta ultrapassada, nossa autoestima já está muito bem estabelecida e agora a gente precisa de políticas públicas que garantam o direito de uma digna existência social”, pontua em conversa com a Alma Preta Jornalismo.
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Questionada sobre como a criação de políticas públicas podem gerar uma maior consciência da população sobre os preconceitos que atravessam corpos gordos e negros, Aline diz que torce para que os movimentos não se distanciem das pautas raciais no debate antigordofobia e que não construa um novo padrão para dialogar sobre a quebra de padrão. “Desde que as pessoas gordas começaram a se impor a gente vê que instituições e estabelecimentos estão buscando ser inclusivos, mas os corpos inseridos nessas discussões são majoritariamente brancos e até padronizados. É preciso escutar e dialogar com pessoas gordas e negras para o que deveria ser positivo socialmente não seja construído de maneira equivocada e excludente”, destaca.
Em 2017, uma pesquisa feita pelo Skol Diálogos diagnosticou que a gordofobia está presente no dia a dia de cerca de 92% dos brasileiros. Sobre como combater e gerir novas políticas que atendam às necessidades das pessoas gordas e que combata a discriminação no país Aline sugere algumas medidas. “A gente tem que falar de gordofobia e racismo nas escolas, qualificar os professores e gestores sobre os danos causados nas nossas vidas e construir políticas públicas que formem autoestima e representatividade na vida das crianças e adolescentes. A mídia tem um papel importante nessa construção também”, finaliza.
Para mais informações sobre a luta diária e processos de autoaceitação, o ‘Bonita de Corpo’ oferece conteúdos em sua página oficial no Instagram. Para conferir, acesse o link.
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