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‘Baby’: luzes na cidade

O diretor, roteirista e líder da produtora Dois Pontos Filmes é convidado da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e traz suas impressões sobre as obras da mostra na Alma Preta
Imagem de divulgação do filme "Baby"

Foto: Divulgação

3 de novembro de 2024

A tia de Baby pergunta:

– Vocês são da igreja?

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E em resposta, ouve:

– Não, somos de São Paulo mesmo.

São Paulo pode ser vista como uma terra de acolhimento — não de maneira romântica e afetuosa, mas por abarcar sonhos e pessoas de todos os lugares possíveis. A cidade hipnotiza com suas luzes e engole com sua vastidão geográfica. Dentro desse macrocosmo, estão alocados tanto a diversidade daqueles que buscam quanto a semelhança daqueles que acolhem. E na troca dessas relações, em meio às luzes no escuro, estão Wellington/Baby (João Pedro Mariano) e Ronaldo (Ricardo Teodoro).

A relação entre os dois se inicia em um cinema pornô no centro da cidade. Wellington, recém-saído da Fundação Casa, sente desejo; Ronaldo, trabalhando como garoto de programa no local, pode atender a esse desejo por um valor fixo. Como Wellington não tem dinheiro, o desejo inicial não se consome. Contudo, na cidade mais populosa da América Latina, o que não falta é solidão, e esta acaba sendo o elemento que une essas duas vidas.

O roteiro do diretor Marcelo Caetano, em parceria com Gabriel Domingues, não busca uma história de amor romântica no sentido convencional. Antes sozinhos, agora eles têm um ao outro para se preocupar, e a dinâmica desse cuidado é moldada pela conveniência do desejo. A iluminação acompanha a mudança de cenários e a maneira como adentramos a vida familiar de ambos. Trabalhando juntos, são guiados pela luz neon da cidade; nas interações familiares, pela luz natural do sol. As exceções ocorrem quando as dinâmicas entre eles se alternam. Amantes, colegas de quarto, traficante e “aviãozinho” — relações que se transformam e se reforçam em uma costura de afeto e acolhimento, comprados com a solidão.

Destaque para as famílias de ambos, com excelentes participações de Ana Flávia Cavalcanti e Bruna Linzmeyer. Em especial, Kelly Campello, que interpreta a mãe de Baby. Sua breve participação se torna grandiosa pela delicadeza de sua atuação, sem diálogos, apenas pelo olhar.

O filme tem uma conclusão um tanto redundante para uma construção tão clara e forte ao longo da projeção. No entanto, o brilho de acompanhar duas almas que querem tanto, em uma cidade que dá na mesma proporção em que tira, não se perde. ✬✬✬✬ (Muito bom)

Quem dirige:

Mineiro radicado em São Paulo, Marcelo Caetano dirigiu o longa-metragem “Corpo Elétrico”, melhor filme brasileiro pela APCA em 2017, e as séries “Hit Parade” e “Notícias Populares”, ambas veiculadas pelo Canal Brasil. Trabalhou em diversas produções como

 assistente de direção e produtor de elenco, das quais se destacam “Tatuagem”, “Bacurau”, “Aquarius” e “Boi Neon”. Em 2009, Marcelo fundou a produtora Desbun Filmes. 

  • Vitin Allencar, 34 anos, é um diretor e cineasta brasileiro. Como diretor de videoclipes é conhecido por seu trabalho inovador na indústria musical. Cofundador da produtora Dois Pontos, têm criado vídeos visualmente impactantes para artistas da cena musical brasileira, como Pabllo Vittar, Pocah e Gloria Groove. Seu trabalho tem sido reconhecido em várias listas de melhores videoclipes, e ele se destaca por sua capacidade de criar conteúdos visuais que capturam a atenção do público

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