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Mestre Lumumba, um patrimônio imaterial da cultura negra no Brasil

Mestre Lumumba destacava-se por sua multiplicidade de saberes, perpassando pela música, as artes plásticas, o teatro, a educação, a bio-construção, o candomblé, a filosofia e o movimento negro

Imagem: Raulzito

Foto: Imagem: Raulzito

10 de abril de 2023

Por: João Nascimento

No dia 07 de abril de 2023 na cidade de Taubaté, interior paulista, faleceu com 77 anos Mestre Lumumba vítima de uma parada cardíaca. Lumumba estava hospitalizado em estado grave há mais de um mês no Hospital Municipal Universitário de Taubaté.

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Mestre Lumumba foi um dos maiores artistas brasileiros, um detentor nato da cultura negra herdada por sua família de descendentes de África, que somatiza em suas experiências a busca incessante na coleção de pesquisas adquiridas nas andanças da vida, uma “biblioteca viva”, um baobá em forma humana, que preservava a memória das tradições, costumes, oralidades e saberes, ao qual era comumente convidado a difundir por todo o território nacional.

No início da década de 1970 na cidade de Campinas, interior de São Paulo, forma o Grupo Teatro Evolução ao lado de grandes artistas da época e de maneira significativa torna-se referência na produção de arte negra, evidenciando uma estética autoral pavimentada nos saberes de matrizes africanas, sempre posicionando suas criações como manifesto poético e cultural para uma luta antirracista, contribuindo para expansão do movimento negro no país, tendo papel crucial para a fundação do Movimento Negro Unificado.

Em meados da década de 1980 exerce uma importante passagem pela banda Arembepe que havia chegado da Bahia em São Paulo, considerada uma das pioneiras bandas a introduzir a música Reggae no Brasil. Logo a carreira autoral de Lumumba ganha reconhecimento na cena reggae sendo considerado um dos grandes expoentes desse estilo através de suas levadas eletrizantes de violão e composições autorais interpretadas por sua voz de tonalidade grave e exuberante.

Em 1988, participou do álbum Negros Africanos, ao lado de nomes como Milton Nascimento e Emílio Santiago. Mestre Lumumba deixou registrado inúmeras canções autorais, destacando-se os álbuns: “Cafuné”; “Axó”; e “Ifé Bogbo Aiyê”. Ainda assim, sua criatividade sempre ativa deixou mais de uma centena de composições musicais inéditas que não foram registradas oficialmente, deixando um enorme legado ainda a ser desvendado pela história da cultura brasileira.

Ao lado de sua esposa Yalorixá Nadya Sant’Anna, Lumumba funda o Ilê Asè Omò Ayé, onde atuava como babalorixá, terreiro de candomblé situado na zona rural do município de São Luiz do Paraitinga (SP), local onde morava há mais de três décadas.

Lumumba destacava-se ainda na luthieria, produzindo e ensinando a arte de confeccionar tambores africanos. Em São Luís do Paraitinga, Lumumba era mestre de congada, reconhecido nacionalmente como mestre dos saberes, personagem icônico comprometido com a preservação da memória negra cultural de São Paulo e na articulação de grandes grupos congadeiros em diversas regiões do interior do estado.

Lumumba antes de partir deixou gravado uma websérie inédita intitulada “De Mestre Para Mestre” com 3 episódios inéditos ao qual realizou a direção e curadoria, que será exibida em breve nas plataformas de streaming e gravou seu último álbum musical autoral que ainda não possui data para lançamento.

João Nascimento

Nascido no Morro do Querosene, filho de Mestre Dinho Nascimento, João conviveu com o Mestre Lumumba a mais de três décadas. Artista multi-linguagens, cineasta documentarista, pesquisador de cultura na diáspora negra, João Nascimento realizou a direção, roteiro e trilha sonora do filme “Danças Negras” que conta com a participação de Mestre Lumumba. Em 2021, João Nascimento é entrevistado por Lumumba no programa “De Mestre Para Mestre”. Em 2018 grava o single “Há dádiva de Katendê” que conta com a participação de Mestre Lumumba, entre outras ações.  Em 2020, realiza a produção e direção musical do álbum “Ifé Bogbo Aiye”.

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