Mulher, preta, mãe de sete filhos e catadora de recicláveis, Aline Sousa da Silva teve o seu nome conhecido no último domingo (1), após entregar a faixa presidencial ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ela foi uma dos oito representantes do povo brasileiro escolhidos para subir a rampa do Planalto, em Brasília, durante a cerimônia de posse do presidente Lula.
Moradora da Estrutural, no Distrito Federal, Aline Sousa atua como catadora desde os 14 anos e é a terceira geração da família que trabalha no ramo. Sua mãe e avó materna são catadoras da mesma cooperativa. À Alma Preta Jornalismo, ela conta que o convite para participar da cerimônia surgiu através de uma ligação diante da sua atuação na cooperativa. Com a repercussão, ela espera que a visibilidade sirva para mostrar a realidade dos catadores de recicláveis no país.
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“Eu espero que toda essa visibilidade que foi nos dada sirva para que a gente consiga disseminar a realidade dos catadores no Brasil, mostrar para a sociedade e para o governo que a solução está dentro das cooperativas nessa questão do tratamento correto dos resíduos […] e também fazer com que a gente resgate todas as políticas públicas, não só na esfera ambiental, mas também nos direitos essenciais”, comenta.
Diretora presidente da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF e Entorno (CENTCOOP-DF) pelo terceiro mandato consecutivo, Aline também atua na Secretaria Nacional da Mulher e Juventude da Unicatadores. Em 2013, ingressou no Movimento Nacional de Catadoras como articuladora nacional com representação da categoria no Distrito Federal.
Atuante pelos direitos dos catadores de recicláveis e beneficiária de programas sociais criados no governo Lula, como o programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida”, a catadora conta que não esperava pela repercussão que teve ao colocar a faixa presidencial em Lula e destaca que tem recebido muitas mensagens de pessoas negras por causa da sua representatividade simbólica durante o ato.
“Tenho recebido muitas mensagens da nossa população negra, que sempre foi muito atacada, e para mim foi uma honra. Nem achei que teria essa repercussão toda por conta da minha cor. A gente vive em um país ainda muito racista, que ainda mata por questões da nossa cor. Eu acho que a simbologia disso é de reforçar que a gente também é ser humano e que a também tem vida e direitos”, afirma.
Além de Aline, também participaram da cerimônia o garoto Francisco Carlos, de 10 anos, que representou as crianças pretas do país; o cacique Raoni Metuktire, de 90 anos; o metalúrgico Weslley Viesba Rodrigues Rocha; o professor Murilo de Quadros Jesus; a cozinheira Jucimara Fausto; o artesão Flávio Pereira, do Paraná; e Ivan Baron, influenciador e referência na luta anticapacitista.
Sobre a expectativa com o novo governo Lula, ela espera que seja um caminho de diálogo na construção e garantia de direitos básicos. “Que a gente consiga nesse governo, de diálogo e construção, trazer novas políticas que consiga, de fato, incluir as pessoas e garantir os direitos fundamentais, como o combate à fome e trazer dignidade para as pessoas”, completa.
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