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A população negra tem um grande potencial de alterar o sistema, diz especialista

Maioria na população brasileira, comunidade negra tem papel decisório nas eleições, período de crescimento do engajamento da sociedade

Imagem: Isabel Praxedes

Foto: Imagem: Isabel Praxedes

25 de outubro de 2022

Mesmo com avanços no debate político no Brasil, existe uma conservação de narrativas ao longo da história política do país. Em um momento crucial para a democracia brasileira, estudos e especialistas ressaltam a importância da sociedade organizada e a diversidade entre os protagonistas e articuladores, principalmente para combater narrativas sistêmicas, que pouco acrescentam para evolução e aplicação de políticas públicas. Nesse sentido, se faz importante o engajamento da população negra e periférica.

Durante os mais de 30 anos de democracia, o país teve poucos avanços em pautas que atendessem ao interesse público e, principalmente, às pessoas negras e periféricas. E uma das estratégias para manter o governo longe destes assuntos é a insistência em reforçar problemas sem demonstrar soluções, como a corrupção. 

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Para a cientista política, Isadora Harvey, o debate da corrupção ainda caminha numa linha muito cinza e os últimos anos na política brasileira mostram isso. “Acho interessante não se deixar inundar pelas discussões dos problemas que não se encaminham em propostas factíveis e realistas para contrapor uma cultura que, infelizmente, parece estar conectada de forma quase intrínseca às instituições”, comenta a especialista. 

Enquanto maioria na população brasileira, fica evidente o papel importante que a população negra tem nesse debate. Nesse sentido, Isadora ressalta que mesmo ocupando os menores índices na garantia de seus direitos, a população negra tem papel fundamental na discussão dos valores como sociedade, sem que isso precise recair em mais uma responsabilização excessiva sob o grupo. 

“A população negra tem um grande potencial de provocar e demandar alterações nos nossos sistemas e acordos democráticos. Principalmente, contribuindo com outras perspectivas, éticas e responsabilidades coletivas habituais das organizações societais negras prévias à colonização. É fundamental estar atento aos discursos, às tentativas de dispersão social e política e aos propósitos por trás dessas narrativas; especialmente a população negra.” – Isadora. 

No mesmo caminho, documento construído pela Purpose, que pontua rotas de saída para falar sobre corrupção, indica que um caminho importante para ampliar a contranarrativa é construir um política brasileira diversa e representativa, que atenda aos anseios da maioria e amenize problemas estruturais, como a desigualdade social e a ausência de direitos. 

Apesar disso, é necessário construir e fomentar uma maioria mobilizada na sociedade. Nesse sentido, a comunidade negra tem muito a contribuir nesse movimento. “Historicamente, a população negra demonstra um alto nível de capacidade organizativa e de mobilização politizada; que, sistematicamente, é alvo de estratégias e ferramentas de desmobilização e desarticulação”, comenta Isadora. 

Para ela, o papel da comunidade negra pode, mais uma vez, refletir, resgatar e atualizar para a realidade, as experiências éticas de uma vida coletiva baseada em valores comunitários para a garantia da dignidade, do respeito e da autonomia. “O potencial desse processo está, justamente, no investimento e na valorização da capacidade imaginativa e radical da população negra para uma sociedade mais justa”, afirma a cientista. 

O guia pontuado na matéria foi idealizado e elaborado numa jornada colaborativa das organizações Purpose, Instituto Cidade Democrática, Mulheres Negras Decidem, Open Knowledge, Periferia em Movimento, Transparência Brasil e Transparência Internacional. A metodologia de trabalho contou com uma agenda que incluiu pesquisas secundárias, oficinas de co-criação e testes de mensagens.

Você pode conferir o guia clicando aqui.

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