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Projeto leva formação audiovisual a comunidades quilombolas do Pará

Ação passará por um total de oito comunidades remanescentes de quilombos até outubro
Imagem mostra grupo de pessoas em volta de uma câmera.

Foto: Divulgação

22 de julho de 2024

Com o objetivo de fortalecer a formação audiovisual e salvaguardar a história das comunidades quilombolas da região do Baixo Tocantins (PA), o projeto “Cine Quilombo Tocantina” realiza um circuito de oficinas e exibição de filmes no quilombo São José do Icatu, em Mocajuba, no próximo sábado (27). Essa é a segunda agenda da ação, que passará por um total de oito comunidades remanescentes de quilombos até outubro.

A programação do dia 27 contará com a exibição dos filmes: “Mensageiras da Amazônia”, de Coletivo Daje kapap Eypi (PA); “O Brilho da Herança”, de Júnior Machado (SP); e “Samba de Catete – Alvorada Quilombola”, de André Santos (PA). Além desses, será também exibido o filme “A Misura de Anhanga”, que foi produzido na primeira edição do projeto, no quilombo Igarapé Preto, em Oeiras do Pará, no mês de maio.

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O território quilombola São José do Icatu fica situado entre os municípios de Baião e Mocajuba, com mais de 440 moradores e 80 famílias, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O projeto ‘Cine Quilombo Tocantina’ cumpre o papel de promover acesso ao audiovisual como um meio de preservar e compartilhar a cultura tradicional dos quilombos paraenses”, destaca Rafael Nzinga, diretor da produtora Cine Diáspora.

Rafael explica que a curadoria dos filmes exibidos priorizou produções de realizadores negros, quilombolas e indígenas. A intenção é promover a visibilidade de profissionais do audiovisual que estão fora das grandes produtoras e das salas de cinema tradicionais. Os filmes escolhidos foram gravados em comunidades quilombolas do Pará, Amapá, São Paulo e Maranhão, além de uma produção filmada na aldeia indígena Munduruku (PA).

“O cinema é uma poderosa ferramenta para formação do pensamento crítico e isso vem sendo fortalecido com os mecanismos de políticas afirmativas, que possibilitam o aumento do número de cineastas negros. O ‘Cine Quilombo Tocantina’ nasce para dar visibilidade a essas produções e levá-las ao povo que mais precisa vê-las”, completa Nzinga. 

(Divulgação)

Itinerância beneficiará 8 mil quilombolas

Além do território São José do Icatu, a itinerância já passou pelo quilombo Igarapé Preto, em Oeiras do Pará, entre os dias 6 e 12 de maio deste ano. Nos seis dias, foram realizadas 40 horas de formação audiovisual, com participação de cerca de 20 pessoas de quatro comunidades, que produziram o curta-metragem “A Misura de Anhanga”. A exibição atraiu mais de 100 pessoas para assistir à produção.

“As oficinas foram sobre história do cinema negro na luta antirracista, direção, fotografia, edição e comunicação quilombola. Ao final da formação, foi gerado um curta-metragem de oito minutos, que fala sobre Anhanga, um ser protetor das florestas que vive nas histórias locais. Todo o processo foi feito pelos participantes da oficina”, pontua Lu Peixe, sócia da Cine Diáspora e idealizadora do projeto. 

Outras seis comunidades serão beneficiadas com exibição de filmes e mais 12 horas de formação audiovisual, são elas: Quilombo do Cardoso, em Baião (03/08/2024); Quilombo de Engenho, em Baião (10/08/2024); Quilombo de Terra da Liberdade, em Cametá (24/08/2024); Quilombo Tambaí-Açu, em Mocajuba (14/09/2024); Quilombo de Mupi, em Cametá (21/09/2024); e Quilombo do Igarapé Arirá, em Oeiras do Pará (05/10/2024).

Segundo a organização, o projeto deve beneficiar 8 mil moradores de comunidades quilombolas localizadas na região de integração do Tocantins, no Pará, que compreende os municípios de Baião, Bagre, Breu Branco, Cametá, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Oeiras do Pará e Tucuruí. Diretamente, a iniciativa gera emprego para mais de 40 pessoas quilombolas da região e movimenta o comércio local.

“Essa circulação vem para contribuir com o empoderamento da população quilombola no audiovisual. O Brasil investiu cerca de R$52,1 bilhões em produções de conteúdo em 2021, mas ainda carece de produções negras e nortistas. Temos que olhar o audiovisual como um setor que, além de salvaguardar nossas histórias, gera emprego e renda para essas comunidades”, conta Lu Peixe.

Política pública

Selecionado pelo Edital de Fomento ao Audiovisual – Lei Paulo Gustavo – Cinema de Rua ou Cinema Itinerante e Cineclubes, o projeto “Cine Quilombola Tocantina” é uma realização das produtoras Cultura Belém e Cine Diáspora, conta com apoio das associações dos remanescentes de quilombo das oito comunidades participantes e parceria da Escola Ananse nas oficinas, que tem como metodologia a discussão racial por meio do audiovisual.

“O projeto promove a formação de novas lideranças quilombolas e profissionais do audiovisual para o mercado, vivência entre as comunidades, fortalece a formação audiovisual e salvaguarda as histórias quilombolas em regiões cercadas de rios, onde tudo é mais complexo e os financiamentos para atividades culturais são poucos ou quase nenhum”, explica Nzinga. 

“Isso mostra a importância de políticas afirmativas para a população negra e quilombola. Atualmente, o governo federal inclui políticas afirmativas em seus editais, que permitem que a verba investida tenha retorno para as comunidades que mais precisam, mas para isso continuar, precisamos que essas políticas sejam implementadas também de forma estadual”, finaliza Rafael.

A Cine Diáspora é uma produtora audiovisual independente, que cria e compartilha histórias de pessoas negras, como uma forma de transformar a sociedade e empoderar a população afro-brasileira. Formada por Lu Peixe e Rafael Nzinga em Belém do Pará, Amazônia, a produtora realiza festivais, mostras, oficinas, distribuição e produção de obras audiovisuais.

(Divulgação)

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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