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Debate presidencial e a democracia da branquitude

Povo negro, maior segmento político brasileiro, é ignorado no primeiro debate presidencial no Brasil

Imagem: Renato Pizzutto/Band

Foto: Imagem: Renato Pizzutto/Band

29 de agosto de 2022

No primeiro debate televisionado com os candidatos à presidência da república, o Brasil viu se repetir a dinâmica do mito da democracia racial. Um encontro sem pessoas negras na posição de candidato, nenhuma pessoa negra com a possibilidade de questionar os postulantes ao cargo de chefe do executivo, e nenhuma citação ao tema.

Os seis candidatos que participaram do debate, Lula, Bolsonaro, Tebet, Ciro, D’avila, Soraya, são todos brancos. Todos os jornalistas que tiveram a oportunidade de questionar os candidatos também eram pessoas brancas. A única aparição preta foi da apresentadora Cynthia Martins, do Jornal da Noite, da Band. Ela, contudo, não teve oportunidade de questionar os postulantes ao cargo de chefe do executivo.

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Os dois candidatos negros, Vera Lúcia e Leonardo Péricles, não participaram do debate. Nenhum jornalista negro foi convidado para questionar os políticos presentes, mesmo com repórteres negros de qualidade na cobertura do tema em todos os canais de mídia e na imprensa independente.

O resultado é um total silêncio para temas muito importantes para a comunidade negra. Nenhum questionamento direto sobre a mortalidade de jovens negros, os altos índices de encarceramento em massa, a atual política de drogas, a violência contra mulheres negras no sistema de saúde, a política de cotas nas universidades brasileiras, entre muitos outros temas.

O Brasil mantém com toda firmeza o mito da democracia racial, a mais sofisticada tecnologia de dominação e segregação racial. O país não precisou impor leis como as Jim Crow dos EUA ou o Apartheid da África do Sul para segregar pessoas negras de todos os espaços de poder, com o bônus de negar e tentar abafar qualquer discussão sobre desigualdade racial no país.

É um ciclo vicioso completo. Sem a presença de pessoas negras para tensionar a discussão, o tema não vem à tona, e sem vir a público, não se avança. É preciso romper esse ciclo para que a pauta racial tenha o lugar devido na realidade cotidiana do Brasil.

A falta de participação do maior segmento social do Brasil, que representa 56% da população, demonstra a ausência de democracia no país. Não há como superar as desigualdades no Brasil sem incluir o principal motor das desigualdades do país, o racismo.

Como a Coalizão Negra por Direitos afirmou durante a pandemia, “Enquanto houver racismo, não haverá democracia”, é preciso superar o racismo, assegurar a dignidade e garantir direitos ao povo negro para que exista democracia.

O debate presidencial é um espelho disso. Sem pessoas negras no posto de candidato ou jornalista, o Brasil demonstra que o atual compromisso democrático ainda é branco e não responde aos desejos das periferias, favelas e quilombos do país.

É necessário democratizar a democracia, com uma ampla participação popular dos diferentes segmentos sociais nos espaços de decisão e definição dos rumos do país. Não há mais como silenciar a comunidade negra. Os movimentos sociais e os grupos de mídia independente seguirão em denúncia desse estado de coisas.

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