Um dos principais nomes da luta anticolonial, o revolucionário angolano Agostinho Neto completaria 100 anos neste sábado (17). Médico de profissão, poeta por vocação e um líder por natureza, assim Neto é descrito no site Marxists. Devido à sua importância na luta pela libertação de Angola, no seu aniversário é feriado nacional, em comemoração a Dia do Herói Nacional.
António Agostinho Neto nasceu no dia 17 de setembro de 1922, na cidade de Ícolo e Bengo, na província de Luanda, a cerca de 70 km da capital angolana. Ele era filho de Agostinho Pedro Neto, professor, pastor e catequista da missão metodista americana em Luanda, e Maria da Silva Neto, professora primária. Por conta do trabalho de seu pai, Agostinho Neto estudou em boas escolas, o que contribuiu para que ele conseguisse ingressar no curso de Medicina, na Universidade de Coimbra, em 1947. Porém, um ano depois, Neto recebeu uma bolsa de estudos e se transferiu para a Universidade de Lisboa.
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No ano em que se mudou para Lisboa, em 1948, Agostinho Neto começou a escrever poesias. Por conta do teor nacionalista de suas produções, o então estudante era considerado subversivo e, em 1950, foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), órgão repressor da ditadura de António de Oliveira Salazar, e passou três meses encarcerado. Ao sair da prisão, fundou o Centro de Estudos Africanos (CEA), movimento com raízes anticolonialistas, ao lado do também angolano Mário Pinto de Andrade, do guineense Amílcar Cabral, do moçambicano Marcelino dos Santos e do são-tomense Francisco José Tenreiro.
Em 1951, foi escolhido como representante da Juventude das Colônias Portuguesas junto ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), organização de oposição ao regime salazarista. Por conta de seu ativismo na luta anticolonial, foi preso novamente pela PIDE, em 1951, e quatro anos depois, em 1955, foi condenado a 18 meses de detenção. O encarceramento impediu que, em 1956, Agostinho Neto acompanhasse o lançamento do Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), que nasceu da união entre o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUA) e o Partido Comunista Angolano. Em 1957, assim que sai da prisão, volta à universidade e se forma em medicina.
Agostinho Neto voltou para Angola em 1959, abriu um consultório médico em Luanda e se envolvia cada vez mais na luta anticolonial. Por conta de seu ativismo, foi mais uma vez preso pela PIDE, em 1960, e colocado uma prisão em Cabo Verde. Após ser libertado, dois anos depois, Neto passou por muitos países, mas se manteve extremamente ativo no MPLA. Ele e sua família moraram no Marrocos, Zaire (atual RD Congo), Congo-Brazzaville e Tanzânia. Enquanto isso, era o principal comandante militar do movimento e coordenou diversas ações armadas que ocorreram em Angola durante a guerra pela independência.
Em 1974, como consequência da Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura do Estado Novo em Portugal, e pondo fim a mais de 10 anos de guerra pela independência em Angola, o MPLA declara o cessar-fogo e, um ano depois, em 1975, Angola é reconhecida como Estado independente, com Agostinho Neto assumindo o posto de primeiro presidente do país. Porém, junto com a independência, o país se viu numa guerra civil. Um conflito entre o governo, sob o comando do MPLA e com apoio de países como Cuba, União Soviética e Congo-Brazzaville, e grupos militares de direita, anticomunistas, como a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que contavam com o apoio dos regimes da África do Sul e do Zaire, além dos Estados Unidos. O conflito durou mais de 20 anos, se encerrando em 2002.
Além da guerra civil, o governo de Neto precisou lidar com conflitos dentro do próprio MPLA, principalmente de uma ala mais ortodoxa do MPLA, que o acusava de afastar o movimento da esquerda. Esses conflitos culminaram no Fraccionismo, movimento que organizou uma tentativa de golpe dentro do próprio partido. Após a derrota desta minoria do partido, alguns dos principais opositores foram assassinados, como Nito Alves e Sita Valles. Estas mortes foram atribuídas às ordens de Agostinho Neto, que se tornou alvo de protesto da ala mais insatisfeita do movimento.
Agostinho Neto faleceu em 1979, num hospital de Moscou, na União Soviética, em decorrência de complicações de uma cirurgia para retirada de um tumor no fígado.
Reconhecimento de sua luta
O líder angolano foi um dos vencedores da edição 1975-76 do Prêmio Lenin da Paz, ao lado de nomes como o moçambicano Samora Machel. A honraria era dada pelo governo da União Soviética em reconhecimento de pessoas que haviam trabalhado para o fortalecimento da paz entre os povos. Agostinho Neto foi o único vencedor angolano do prêmio. O Brasil teve três ganhadores da honraria: Jorge Amado, Elisa Branco e Oscar Niemeyer.
Em Angola, no dia de seu aniversário, 17 de setembro, é comemorado o Dia do Herói Nacional, em homenagem ao seu esforço e participação no processo de libertação do país. O feriado nacional foi instituído em 1980, um ano após sua morte, pela Assembléia do Povo.
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