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Música, religião e ancestralidade são destaque do 2º dia do Ciclo Afro na Feira do Livro de Bogotá

Nomes como Fabiana Cozza, Tiganá Santana e Pai Pote compartilharam visões sobre resistência negra e decolonialidade; a Alma Preta está na Colômbia cobrindo o evento
A artista Fabiana Cozza se apresenta durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024

Foto: Pedro Borges/Alma Preta

24 de abril de 2024

O segundo dia das atividades do Ciclo Afro durante a Feira do Internacional do Livro de Bogotá (FILBo) começou com Fabiana Cozza, ao som de Pixinguinha. Na manhã da terça-feira (23), ela recordou a data do Dia Nacional do Choro no Brasil — comemorado na mesma data — e cantou músicas em referência ao candomblé. Com um pandeiro nas mãos, a artista pediu à plateia para acompanhar o canto com as palmas da mãos.

Cozza participou da atividade “A música e a produção de novos imaginários políticos”, ao lado da artista e intelectual colombiana Ochy Curiel, com a mediação de Marcos Ramos. O painel foi acompanhado pela Alma Preta, que participa da FILBom na Colômbia. Fabiana Cozza deu sequência à apresentação com um vídeo do grupo Ilú Obá De Min, responsável por abrir o carnaval de São Paulo, com uma homenagem a Marielle Franco, ex-vereadora assassinada junto a seu motorista, Anderson Gomes, em 2018.

Da esquerda à direita: a artista Fabiana Cozza, a pesquisadora Ochy Curiel e o mediador Marcos Ramos, durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024
Da esquerda à direita: a artista Fabiana Cozza,, a pesquisadora Ochy Curiel e o mediador Marcos Ramos, durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024 (Pedro Borges/Alma Preta)

Fabiana Cozza abordou ainda o histórico de parceria de pessoas negras, materializado nas irmandandes, desde o período do escravismo. Ela ressaltou as reivindicações de mulheres negras de participação na política nacional.

Na sequência, a professora e artista Ochy Curiel iniciou uma fala sobre a situação vivida pelo Haiti e a necessidade de uma solidariedade acerca dos desafios vividos pelo país, em especial por conta de toda simbologia do Haiti para a diáspora. O país teve a primeira revolução feita por pessoas escravizadas, a partir de 1791.

Ela deu sequência à fala com a explicação de que a música não é universal. Segundo ela, há músicas de caráter nacional, que impõem uma unidade, como é o caso dos hinos nacionais, que em diversas situações não representam as populações negras e indígenas.

“Vamos analisar a música com as classes políticas, com a raça. Qual o projeto de mundo que temos para as músicas? A música, o Candomblé e a Umbanda trabalham com a memória ancestral, que não pode ser identificada na memória acadêmica, mas no corpo, através do ritmo e do corpo”, afirmou.

Música e presença negra na universidade

Na sequência, Melissa Gomez apresentou os desafios e as conquistas do Centro de Estudos Afrodiaspóricos (Ceaf). Ela participou do debate “A presença afro-diaspórica na redefinição da Universidade”, com a presença do artista Tiganá Santana, com a mediação de Laura de La Rosa.

Pesquisadora da área de relações internacionais e políticas públicas, ela mostrou como o Ceaf tem prestado apoio para estudantes negros respeitando a possibilidade do erro — algo pouco aceito em relação à juventude negra.

Gomez ainda afirmou que o Ceaf desenvolve pesquisas sobre a diáspora africana e tem o desejo de se tornar uma referência no assunto na América Latina, com a possibilidade de trocas com centros e núcleos de outros países.

Da esquerda à direita: a pesquisadora Melissa Gomez Hernandez, a mediadora Laura de La Rosa Solano e o músico Tiganá Santana, durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024
Da esquerda à direita: a pesquisadora Melissa Gomez Hernandez, a mediadora Laura de La Rosa Solano e o músico Tiganá Santana, durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024 (Pedro Borges/Alma Preta)

Já Tiganá Santana deu início à sua fala com um agradecimento sobre a estadia na Colômbia e ressaltou as conexões existentes com o Brasil. O artista contou sobre sua experiência como morador do estado da Bahia que, segundo ele, mesmo sendo uma das regiões mais negras fora do continente africano, não exclui a presença do racismo interpessoal e institucional na região.

Santana saudou as pessoas que lutam por uma múltipla presença negra nos espaços de poder, como a universidade. O artista sinalizou, contudo, que não se pode substituir personagens entre opressores e oprimidos nas universidades. Para ele, é preciso pensar em novos conhecimentos.

Religiosidade e celebração

Na parte da tarde, a discussão foi sobre o “Bembé do Mercado: Salvaguarda, Política, Festa e Devoção”, com a presença de Pai Pote, responsável pela coordenação do festejo, Rita Dias, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e mediação de Leonardo Moraes, diretor nacional do Sesc. 

Pai Pote, vestido de azul em homenagem a Ogum, começou a atividade com um canto para o orixá. O dia 23 de abril é feriado em várias regiões do Brasil, como uma forma de celebrar São Jorge, que na região Sudeste é associado a Ogum e, em estados como da Bahia, a Oxóssi. Depois de celebrar Ogum, Pai Pote cantou para Oxóssi, Oxum e pediu axé para o encontro.

A professora Rita Dias iniciou com um pedido de licença para falar e, na sequência, trouxe uma reflexão sobre o que a universidade tem feito no país, no novo tempo colocado, de democratização do acesso, com mais estudantes negros e de periferias.

Pai Pote fala durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024
Pai Pote fala durante painel da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024 (Pedro Borges/Alma Preta)

Durante o restante do tempo de fala, a professora falou sobre o Bembé do Mercado, que completará a edição de número 135 em 13 de maio deste ano e explicou que a celebração reúne cerca de 60 terreiros de religiões de matriz africana do recôncavo baiano. 

A festa é uma celebração que ocorre em praça pública, no mercado municipal de Santo Amaro da Purificação (BA). “A festa é a população negra reescrevendo a sua história. Essa memória é a narração própria”, afirmou.

Dias disse ainda que a prefeitura passou a reconhecer a festa, construiu o espaço para o festejo e acredita que o Bembé do Mercado é uma representação das lutas pela garantia das tradições coletivas do povo negro.

Ao final, a pesquisadora apresentou um documentário sobre a festa, com a explicação das origens, os principais organizadores e a simbologia da celebração para a cidade, a região e as religiões de matriz africana

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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