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Atriz panafricanista Zenaide Zen será homenageada por grupo teatral de mulheres negras

Evento online, neste sábado (11), comemora os 30 anos da estreia do espetáculo "A Tempestade: Relatos e vivências de Zenaide Zen” que, em 1991, fez uma releitura da obra de William Shakespeare sob uma perspectiva negra e feminina 

Texto: Letícia Fialho | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Divulgação 

 

Atriz Zenaide Zen durante apresentações

10 de setembro de 2021

Em 1991, 22 mulheres negras dirigidas por Zenaide Zen – atriz, bailarina, poeta e ativista do movimento negro – protagonizaram o espetáculo “A Tempestade”, de William Shakespeare. Em 2021, 30 anos depois, o elenco se encontra em tributo à diretora na Festa Xingó, evento que acontece neste dia 11 (sábado), data de aniversário da estreia do espetáculo, a partir das 19h. 

A atriz Zenaide Zen ficou conhecida nos palcos em espetáculos  como ‘Macunaíma’, montado pela Companhia Paulista de Teatro (CPT), em 1978, com direção de Antunes Filho. Sua presença em cena ficou marcada por características que a punham à frente de seu tempo. Sendo uma das primeiras mulheres negras a transitar entre cenas e coxias com o corpo nu e assumidamente careca.

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“Conheci Zenaide Zen na época da montagem. Soube que ela viveu um tempo na Alemanha. Fazia muitas performances artísticas e tinha um jeito de fazer arte que aqui no Brasil a gente não via. Eu fui chamada para compor o elenco e para ajudá-la a chamar pessoas. E, para mim, foi uma surpresa participar da banca de testes de audição”, conta Valquíria Rosa da Cia Nêga Luzia, uma das organizadoras do evento. 

Valquíria trabalhava com percussão musical na época, e tinha apenas 25 anos. Assim como outras mulheres, participou do elenco sem nunca ter tido contato prévio com a linguagem teatral vanguardista de Zenaide. Segundo ela, a diretora de elenco foi ativista e precursora do afrocentrismo e pan-africanismo atrelados a cultura, arte e ao teatro. 

“Ela via e queria ver as pessoas negras em cena. Teve forte relação com o movimento negro da época, e tinha o propósito de desbancar a narrativa eurocêntrica em São Paulo. Acredito que esse projeto aconteceu por sua direção provocadora no cotidiano dos ensaios, visto que ela nos chamava para ser quem realmente éramos ou que quiséssemos ser, acolheu todas essas mulheres pretas com trajetórias distintas no teatro”, reitera Valquíria. 

A integrante do coletivo e cientista social, Maria da Penha afirma que, para além da cena teatral e da corporificação cênica, Zen conseguiu através de sua carreira artística, colocar essas 22 mulheres negras em protagonismo. 

Para ela, a atriz usava de estratégias pedagógicas e metodológicas dentro do processo criativo das cenas que iam além da repetição cênica. Era o que fazia com que as atrizes sentissem o texto até externalizarem em um conjunto corpóreo nos palcos. 

“Eu nunca tinha ido ao teatro. E tinha vontade de assistir. Até que fui um dia e as pessoas estavam lá ensaiando, fazendo performance. E a Zenaide disse que eu poderia subir ao palco também: ‘vai fazer igual aquela menina ali’, e foi aí que entrei para a montagem. Ela tinha clareza do potencial que tínhamos. E até a estreia nós vivemos um processo de imersão intenso”, afirma Maria da Penha. 

Zenaide fez parte da Cia Teatral Evolução e se destacou em São Paulo como bailarina dançando com Ismael Ivo, que faleceu neste ano vítima da Covid-19. A atriz se formou em Artes Cênicas em Harvard nos EUA, de onde trouxe a teoria Afrocentricidade, que sonhava disseminar através da Lei 10.639/03, que instituiu o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas. 

Legado ancestral 

Também neste mês, em 17 de setembro, completa-se mais um ano da partida de Zenaide Pereira Silva, seu nome de registro, que faleceu em 2011, em consequência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). 

“Ela foi brilhante. Pegou toda a sua vivência lá fora e investiu em acolhimento para mulheres negras, atravessadas por uma infinitude de violências simbólicas”, reflete Maria da Penha. 

Segundo o coletivo, Zen foi colaboradora na luta por direitos civis das populações e comunidades religiosas de matriz africana, com contribuições que possibilitaram a inserção de artistas negros no meio artístico e da comunicação. 

“Quando uma pessoa passa daqui para o Òrun, e a trajetória desse ancestral é mencionada no Àiyé, ele pode ser evocado. Então, na data do evento, que é a comemoração dos 30 anos do espetáculo, além da sua data de ‘encantamento’ (falecimento), nós convidamos Zenaide a nos revisitar através dessas memórias”, reitera Valquíria Rosa.  

Leia também: Benjamin de Oliveira: o precursor do teatro negro no Brasil

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